sábado, 3 de março de 2012

Bliss (Êxtase): Bertha Young

Gustav Klimt, Danae, 1907-8, óleo sobre tela, 77 × 83 cm, Leopoldmuseum, Viena.

Apesar dos seus trinta anos, Bertha Young ainda tinha desses momentos em que ela queria correr em vez de caminhar, ensaiar passos de dança subindo e descendo da calçada, sair rolando um aro pela rua, jogar qualquer coisa para o alto e agarrar outra vez em pleno ar, ou apenas ficar quieta e simplesmente rir-rir-à-toa.
O que fazer se aos trinta anos, de repente, ao dobrar uma esquina, você é invadida por uma sensação de êxtase - absoluto êxtase! - como se você tivesse de repente engolido o sol de fim de tarde e ele queimasse dentro do seu peito, irradiando centelhas para cada partícula, para cada extremidade do seu corpo?
Não há como explicar isso sem soar “bêbado e desordeiro”? Que idiota que é a civilização! Para que então ter um corpo se é preciso mantê-lo trancado num estojo, como um violino muito raro?
Katherine Mansfield, in Bliss. Tradução de Ana Cristina César. No Imaginário Poético 

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