segunda-feira, 5 de março de 2012

1o Movimento, As Epifanias, I.2

Shinichi Maruyama, Kusho
Nem tudo se desfaz, anda em tudo um resquício,
um eco ou outro a mais de restos e destroços,
que alcançam ou não alcançam voltar a serem nossos,
segundo um coração baixe a seu precipício.
Que a aventura é escarpada e a escalada difícil,
alguém já disse isso; diz-se também que os ossos
do ofício, nus, inglórios, são como um desperdício,
um fogo-fátuo na memória – quantos fósseis
somam um só rosto, a mão que o livra num só gesto
de um feixe de cabelos a tumultuar-lhe a testa…?
Resta que um corpo acorda louco de alegria,
só porque, oco como uma ânfora vazia,
ainda há pouco invadiu-o, lhe entrou por cada fresta,
a luz daquele gesto que ele há tempos não via…
Bruno Tolentino, in A Imitação do Amanhecer (Fonte: Imaginário Poético)

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