sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sim. Deus existe.

Crer ou não crer eis a questão? Meu amigo, até mesmo a descrença é uma forma de crença. Quando instalamos nossas bases em terrenos instáveis como o da fé, estamos enveredando por um caminho muitas vezes obscuro, que, em muitos casos, não tarda em flertar com o fundamentalismo. Esteja ele voltado ao teísmo ou ao ateísmo. 
Nasci em família espírita (não confundir com as religiões afro-brasileiras). Aos 14 anos impliquei com minha mãe que queria que eu fizesse primeira comunhão. E fiz. No catecismo, não concordava com nada do que a professora dizia, mas não a aborrecia. Chegou o dia da cerimônia e carreguei toda feliz a minha vela e confessei ao padre, muito envergonhada, os meus pecados de moça pura. Eu queria ser aceita no meu grupo social de maioria católica. Foi quando percebi que a religião era uma forma de sociabilização. 
Um pouco mais adiante, me converti ao Universalismo Estelar. Uma religião que eu mesma inventei. Sou fundadora, pastora e única fiel. Infelizmente, dileto leitor, mesmo que você se interesse por essa religião, o único dogma que ela carrega é permanecer para sempre individualizada em mim. Não haverá outros fiéis que não eu mesma. A espiritualidade é algo muito singular. 
No Universalismo Estelar não há outra compreensão do mundo que não o pensar e a lógica. Evidências empíricas são muito bem vindas, mas nunca analisadas de forma derradeira. Há sempre mais a aprender. Sentada em meu altar, envolta por livros, um dia me deparei com a causalidade. A relação entre causa e efeito e tudo o que envolve a sua inteligibilidade. Desde então, adotei certas posturas quanto às visões ateístas e teístas. 
Deus, para o Universalismo Estelar, é a causa primeira. Como o ônus da prova é de quem acusa, convido o leitor a pensar comigo. Veja, se todo efeito possui uma causa, qual seria a causa do Universo? Poderíamos responder “deus”. Muitos ateus perguntariam: “Mas qual a causa de deus?”, para o que a resposta seria: todo efeito tem uma causa e não toda causa tem uma causa. Partindo desse princípio, poderíamos vislumbrar uma série de características para esse “deus”, tais como: atemporal, eterno, inteligente. Quanto à questão da inteligência, como acreditar que todos os processos físicos e químicos do universo, a complexidade dos corpos, seus pormenores funcionais, a gravidade, os astros e tudo mais que nos circunda, foram todos decorrentes de um acaso, ou da sorte? “Sorte” essa que faz do processo universal um exemplo de sucesso há pelo menos 13,7 bilhões de anos. Seria preciso muita fé. 
Alguns argumentarão que a complexidade que vemos hoje é fruto de uma incalculável quantia de tempo e que por meio da seleção natural a evolução privilegiou os fenótipos mais agraciados. Ora, se a seleção natural tem a capacidade de operacionalizar um processo privilegiando aquilo que favorece a vida, então seria ilógico afirmar que não existe aí um processo inteligente. Além do que temos toda a composição genética como base intrínseca desse decurso, de forma que atribuir ao acaso o funcionamento dessas ferramentas naturais me parece tão pueril quanto comparar a ideia da existência de algo como “deus” à ideia da existência de unicórnios e dragões invisíveis na garagem. 
Qual o trabalho científico que provou o materialismo? Você vê a matéria ou apenas a luz refletida nela? Estamos andando sobre matéria ou flutuando devido à repulsão eletrostática? A matéria é invisível e intangível e ainda assim convertemos o nosso pensamento em niilismos incabíveis. Nem mesmo a ausência de luz pode fazer de nós seres sombrios se essa não for a nossa decisão, se não for da nossa vontade, porque independentemente da matéria nosso eu pode e deve controlar o rumo do nosso comportamento. Entregar-se à inércia mental apenas conturba ainda mais o mundo a nossa volta. 
Quanto às bases éticas do Universalismo Estelar, elas também são cerceadas pela observação e pelo pensamento. A ética conforme o entendimento dos gregos era definida por dois sentidos complementares: a interioridade do ato humano (a intenção) e os hábitos e costumes. Da observação, bem como obviamente da leitura da moral ensinada pelas incontáveis religiões que nos cercam, podemos aprender qual a melhor forma de interação com o outro. É um processo individual voltado para o coletivo. Conhece-te a ti mesmo, ama-te e depois ama teu próximo. 
Como todas as outras religiões, acredito que um dia o Universalismo Estelar será extinto e a espiritualidade será realmente compartilhada sem precisar se alimentar da hipocrisia presente. Se continuarmos tendo a “sorte” que temos e o universo não estiver na iminência de se extinguir por algum erro de cálculo do “acaso”, creio que chegaremos a um tempo onde a habilidade em esculpir uma Pietá será tão comum quanto a que temos hoje de deixar que os outros pensem por nós.
Denise Rossi, in www.revistabula.com

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