O Reino Unido celebra este ano o centenário de nascimento de um de seus mais importantes
cientistas do século 20: o matemático Alan Turing. Lembrado como um dos pais da
computação, ele foi também o nome mais conhecido da equipe britânica que
decodificou o sistema infernal de criptografia usado pela marinha alemã na
Segunda Guerra Mundial: as máquinas Enigma.
Esses dispositivos eletromecânicos tinham uma série
de rotores que permitiam embaralhar as letras com bilhões de combinações
diferentes, de forma virtualmente indecifrável. O sistema foi usado
comercialmente nos anos 20 e depois apropriado pelos militares para suas
comunicações estratégicas. Eles acreditavam se tratar de um código impossível
de ser quebrado.
Os primeiros a quebrar o sistema foram os poloneses liderados pelo matemático
Marian Rejewski, no início dos anos 1930, num dos feitos mais
importantes da criptografia do século 20. Sem que os alemães soubessem, os
criptógrafos poloneses interceptaram e decifraram suas mensagens ao longo
daquela década. Antevendo a iminência da guerra, eles dividiram suas
informações com os ingleses e franceses – poucos dias depois, a Polônia foi
invadida pela Alemanha.
A informação foi essencial para que o grupo de Alan
Turing pudesse quebrar a Enigma naval, uma versão posterior mais complexa
do sistema de cifragem. Com Gordon Welchman, Turing projetou a Bombe, uma
máquina capaz de identificar os ajustes dos rotores usados na cifragem das
mensagem pelos alemães. O grupo de criptoanalistas britânicos trabalhou em Bletchley Park,
80 km a noroeste de Londres. No mesmo lugar, funciona hoje o Museu Nacional da
Computação e o Centro Nacional de Códigos, um museu de criptografia que abriga
uma coleção de máquinas Enigma.
Embora seja hoje amplamente reconhecido por seus
feitos para a computação e a criptografia, Alan Turing teve um fim melancólico.
Em 1952, foi condenado por manter um relacionamento homossexual –
considerado um crime no Reino Unido naquela época. Foi obrigado a se submeter a
uma ‘organoterapia’ – eufemismo para castração química. Suicidou-se dois anos
depois, aos 41, envenenado por cianureto.
Em 2009, o então primeiro-ministro Gordon Brown
disse que o matemático recebera um tratamento “aterrorizante” e “totalmente
injusto”. Sua condenação, no entanto, foi mantida. Na semana passada, o Reino
Unido perdeu a oportunidade de anistiar um de seus maiores heróis científicos,
quando a Câmara dos Lordes rejeitou um pedido de perdão póstumo
a Alan Turing, possivelmente para não ter que estender o benefício a
outros cidadãos. O abaixo-assinado eletrônico cobrando
do governo o perdão a Turing já tem mais de 30 mil adesões.
Bernardo Esteves, in Revista Piauí
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