“Pelo
jornal, e pela reportagem que será a sua função e a sua força, tu
desenvolverás, no teu tempo e na tua terra, todos os males da Vaidade! (...)
Como a reportagem hoje se exerce, menos sobre os que influem nos negócios do
Mundo, ou nas direções do pensamento, do que, como diz a Bíblia, sobre toda a sorte e condições de gente vã, desde os
jóqueis até aos assassinos, a sua indiscriminada publicidade concorre pouco
para a documentação da história, e muito, prodigiosamente, escandalosamente,
para a propagação das vaidades! O jornal é com efeito o fole incansável que
assopra a vaidade humana, lhe irrita e lhe espalha a chama. De todos os tempos
é ela, a vaidade do homem!
Já sobre ela gemeu o gemebundo Salomão, e por ela se perdeu Alcibíades, talvez
o maior dos Gregos. Incontestavelmente, porém, meu Bento, nunca a vaidade foi,
como no nosso danado século XIX, o motor ofegante do pensamento e da conduta.
Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da vaidade, tudo
tende à vaidade. E a forma nova da vaidade para o civilizado consiste em ter o
seu rico nome impresso no jornal, a sua rica pessoa comentada no jornal! Vir no
jornal! Eis hoje a impaciente aspiração e a recompensa suprema! Nos regimes
aristocráticos o esforço era obter, senão já o favor, ao menos o sorriso do
Príncipe. Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em
sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas,
os homens praticam todas as ações—mesmo as boas”.
Eça de
Queirós, in A Correspondência
de Fradique Mendes
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