Este poderia ter sido o título do
desfile da Unidos da Tijuca. O sertão de Luiz Gonzaga, com sua sanfona e sua
Asa Branca, e a cidade do samba com suas luzes e suas curvas.
Anotei duas considerações sobre o desfile deste ano:
1. A presença cultural do Nordeste. Seis escolas o apresentaram.
Desde o cordel ao Maranhão. Passando por Gonzaga. Não é trivial. Nem é por
acaso. Porque o Nordeste é invenção. É sonho. O Nordeste é o Brasil de dentro
pra fora. Saindo das entranhas sertanejas. Enquanto o Sudeste é o Brasil de
fora pra dentro. Vindo da migração de japoneses, alemães, espanhóis,
portugueses, italianos.
O Nordeste é cravo e canela de Jorge Amado. É a angústia alagoana de
Graciliano. É o cultivo folclórico de Cascudo. É o romantismo de Alencar. É a
força mineral de Cabral. É a delicadeza urbana de Bandeira.
2. Há um processo de continuada renovação na organização da arte nas
escolas. Que não é fácil de obter. Porque se trata de mais de uma dezena de
escolas que anualmente desfilam. Apesar desse número e frequência, ano a ano a
inovação surge no talento dos carnavalescos. Penso que existem dois movimentos
fluviais na sua criatividade: o primeiro, veio com Joãozinho Trinta. Sua
característica principal era a visão social. Apoiada na argila da pobreza e na
energia da fé. O segundo movimento vem com Paulo Barros. Seu traço mais
aparente é a transformação do real no imaginário popular. E do imaginário
popular no colorido da realidade. Ele alça o presente às nuvens do eterno.
O Brasil risonho e musical, mais uma vez, deu seu recado. Que o Brasil
sisudo aprenda com ele.
Luiz Otávio Cavalcanti, in Besta Fubana
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