“Não quero deixar de abordar uma questão que reputo
de importante e um erro do qual os príncipes com dificuldade se guardam, se não
são prudentes ou se não têm cuidado nas escolhas que fazem. Trata-se dos
aduladores, espécie de que as cortes se encontram cheias. É que os homens
comprazem-se de tal modo com as coisas que lhes dizem respeito e de um modo tão
ilusório, que só muito dificilmente se precavem contra esta peste. E querendo
precaver-se, corre o risco de se tornar desprezível. Porque não tendes outro
modo de vos protegerdes da adulação a não ser logrando convencer os outros
homens de que vos não ofendem dizendo a verdade. Todavia, quando alguém vos diz
a verdade, sentis a falta da reverência.
Consequentemente,
um príncipe prudente deve dispor de uma terceira via, escolhendo no seu estado
homens sábios, devendo só a esses conceder livre arbítrio para lhe falarem
verdade. E, apenas, sobre as coisas que lhes perguntardes, não de outras. Mas
deve fazer perguntas sobre todas as coisas, ouvir as suas opiniões e, depois,
decidir por si próprio, a seu modo. E com estes conselhos e com cada um dos
conselheiros, portar-se de maneira que cada um deles perceba que, quanto mais livremente falar, tanto
mais será pelo príncipe bem aceite. Fora disto, não dar ouvidos a ninguém,
cumprindo com determinação as suas deliberações. Quem procede de maneira
diferente, ou se deixa perder nas mãos dos aduladores ou está constantemente a
mudar de opinião, conforme os pareceres que ouve, empobrecendo a estima que lhe
é tributada”.
Nicolau
Maquiavel, in O Príncipe
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