Sempre que vejo propagandas de eletrodomésticos, de produtos para casa, como de sabão em pó, por exemplo, me revolto pela presença quase que exclusiva da mulher no ambiente do lar e por elas serem sempre o alvo único e inconteste de todo e qualquer produto.
É ela quem lava os pratos, quem lava e passa as roupas, faz a comida... Enfim, tudo relacionado à casa é a mulher quem faz, enquanto cuida dos filhos e, claro, dos maridos, quase sempre inúteis já que, afinal, "trabalham".
Isso quando as propagandas não beiram o absurdo (ou mesmo ultrapassam), com homens absolutamente tapados e incapazes que não conseguem sequer trocar aquela pedrinha que dá cheiro e supostamente limpa a privada. É preciso gritar para a "desocupada" que "apenas" cuida da casa para que tudo se resolva. A incapacidade do homem é gritante. E ofensiva.
Eles chegam em casa do trabalho e encontram mulheres "donas do lar" que, além de tudo, preparam seu jantar e o das crianças, sempre com um sorriso no rosto, com cheirinho "especial" na casa, roupa lavada...
O homem é o rei da casa e a mulher é sua escrava sorridente... As crianças? São lá só pra fazer figuração, servir de gancho para a propaganda ou só para atrapalhar mesmo.
Algumas propagandas mais "avançadas" ainda mostram a mulher "ativa", trabalhando, saindo, não apenas a dona de casa modelo (dos anos 50). Mas, claro, além deste trabalho, a eterna jornada dupla no lar. Enquanto isso, o marido (aliás, porque normalmente são sempre casadas? Raras são as independentes, solteiras, que namoram e etc), claro, não faz nada.
Não importa qual seja a empresa, qual seja o tipo de produto: Dentro de casa, a mulher é quem trabalha. Uma realeza invertida, onde a "rainha" é quem efetivamente se desdobra em mil funções.
Nada há de errado em ser "dona do lar", ou melhor, em cuidar da casa, o problema é quando esta vira a ocupação exclusiva e razão de vida, como se nada mais existisse. E quando o homem é retratado como um inútil que não ajuda em nada, mas apenas se beneficia da labuta da mulher.
Ambos, homem e mulher são retratados de forma estereotipada, caricata e, enfim, desonesta.
A minha intenção com esse texto, na verdade, parte de um ponto de vista puramente "masculino" e sem intenção de ser feminista — ainda que eu apoie as bandeiras feministas e suas reclamações e reivindicações. É a perspectiva de quem também é "dono de casa", de quem também lava roupas, as guarda, arruma a cama, limpa a casa, lava os pratos, faz comida...
Na verdade, na minha casa, a maior parte do trabalho doméstico é feito por mim, que passo a maior parte do dia em casa estudando enquanto minha namorada trabalha fora e costuma cozinhar nos fins-de-semana (com minha ajuda, aliás).
Mas o serviço de casa sou eu quem faz e não me sinto contemplado pelas propagandas, muito pelo contrário!
Ao mesmo tempo em que há um claro preconceito contra a mulher, há também o preconceito contra o homem, porque este, em teoria, não deveria fazer nenhum trabalho doméstico, logo, aquele que faz está "errado" dentro da concepção propagandística da mídia patriarcalista.
Sendo mais claro, o homem deve exclusivamente "trabalhar" e sustentar a casa. Não deve/pode fazer nenhum tipo de trabalho em casa, no máximo cozinhar naquela data especial a fim de conquistar a mulher ou de manter alguma "chama" acesa. Nada de preparar o almoço pra mulher e pras crianças, a intenção é puramente sexual. O macho alfa conquistador que cozinha para mostrar sua superioridade.
Mas os pratos ficam pra mulher lavar, no dia seguinte.
Em todos os outros momentos, a casa pertence (sic) à mulher. Ela cuida dos filhos, ela prepara as refeições, lava, passa...
Não é agradável ser "ensinado" pela TV que quem deve limpar a casa, cozinhar, lavar e passar é unicamente a mulher e, ao mesmo tempo, é terrível ver que tudo é feito supostamente pensado nelas.
Oras, mas o homem que cuida da casa não tem vez? Não tem espaço?
Somos cidadãos de segunda classe? Alienígenas que deveríamos ter uma Amélia para fazer tudo enquanto coçamos vendo futebol e tomando cerveja (outro "estereótipo midiático" a que somos submetidos)?
Não!
Nós também somos donos de casa, também queremos ser contemplados pelas empresas que vendem sabão em pó, também queremos ver homens lavando os pratos e não para ganhar sexo como agradecimento por supostamente ter feito um trabalho que não é nosso, mas porque simplesmente dividimos as tarefas do lar ou, em outros casos, porque somos solteiros, pais solteiros ou mesmo porque existem casais gays em que, obviamente, não há nenhuma mulher para fazer o serviço doméstico!
Ao mesmo tempo em que há um descarado preconceito contra o papel da mulher na sociedade— é a eterna dona de casa que, mesmo trabalhando fora tem o dever de acumular funções — há também um preconceito contra o papel do homem que não se sente (e não é) contemplado nas propagandas.
E isto precisa mudar, urgentemente, sob qualquer ponto de vista ou perspectiva, seja ela feminista ou não.
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