Que esfrie cá na Serra por esses tempos até se entende. Que Tude de Osório desaposente o casaco de lã azul, quando passa de sua casa, na Rua de Baixo, em busca das graças da virgem da Conceição ou da capelinha do Rosário, onde Martins Roriz edificou uma Ermida, no mesmo local do encontro do corpo da mulher morta por indígenas, também se entende.
Que o tempo pareça começo de inverno, já véspera de Agosto, se entende. E reverdeça jitiranas e camarás, escureçam as folhas do abacateiro, se entende. E até se glorifique. Pois será verde a serra por mais trinta dias, mesmo que o inverno curto e fora de tempo se mande pras bandas do sul.
Que nasça mesmo agora a cebola-braba, assusta. Mas se entende. A cebola-braba nasce no começo da noite e pela manhã já está florada. Certa vez, a mulher de um cachaceiro de cá propôs ao marido: “Migué, vamo fazer uma aposta. Eu planto uma jaqueira e você só volta a beber quando ela butá jaca”. Miguel respondeu em cima da bucha: “Num faço essa aposta nem cum cebola-braba”. A jaqueira leva cerca de dez anos para frutificar.
Que o galo-de-campina cante no verão o canto do inverno, vá lá. O nosso cabeça-vermelha, cardeal lá do sul, galo-de-campina do sertão tem vários cantos. Na gaiola ele perde esse dom. Só canta de um jeito. No mato, solto e livre, não. Ele tem um canto apropriado para cada tempo. O canto da postura. O canto de ensinar aos filhotes o voo e buscar sementes no campo. E um canto dobrado, o mais belo, que é o da conquista e acasalamento. Esse trinado coincide com o início do inverno nos anos de fartura. Estão matando o galo-de-campina. Como já mataram o corrupio e outras espécies. Cadê o Ibama e o Ministério Público? Aqui a natureza faz tudo sozinha. É governo e fiscal da lei. Sozinha de meu Deus!
Chove e venta de forma diferente há alguns meses. Agosto é mês de vento, sabemos. Mas venta forte desde Maio.
A serra se cobre de névoa de forma nova, em modificado tempo do seu jeito. Como se estivéssemos numa outra região de clima ou localização diversa.
E pra ser mais inteligente, não preciso alcançar a genialidade dos novos tempos. Na criatividade, impossível. Basta a generosidade do leitor que perde alguns minutos do seu tempo para ler a conversa que desconverso nesse canto de página que o Novo Jornal me reserva nas edições do Domingo.
Esqueci o fura-barreira. Ele tá doido? Pois veja que o pobre coitado, portador da mais consistente isperiênça de inverno foi traído pelos novos tempos da natureza maculada.
Sua forma de cantar, seu jeito de arrumar a casa de postura, sua permissão de aparecer pela madrugada, seu balançar de asas, penas soltas de cores diferentes, tudo dando sinal de chuva ou seca, entrou em parafuso.
Que danado tá dizendo o fura-barreira? Té mais.
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