Há muito tempo não me divertia tanto. A cada página uma risada, até chegar às lágrimas. Isso aconteceu com a leitura de Pano Rápido, lançamento da CEPE, em que Joca Souza Leão, colunista do JBF, reúne textos publicados por ele na revista Algomais. São histórias da noite, fragmentos de conversas de intelectuais, fatos pitorescos, recolhidos aqui e ali. Tempos e pessoas inesquecíveis da boemia recifense desfilam no melhor dos estilos, numa espécie de pinga-fogo engraçadíssimo.
Com orelha de Garibaldi Otávio e Aluízio Falcão e prefácio de Homero Fonseca, o livro se caracteriza pela Excelência gráfica, impresso em papel couchê fosco e com primorosa edição gráfica e caricaturas de Ricardo Melo. Algo de fazer inveja a antigos amantes das artes gráficas em Pernambuco, como Gastão de Holanda, João Alexandre Barbosa e Ionaldo Cavalcanti, saudosos expertos no assunto.
Um dos aspectos mais interessantes da novel publicação é que ali estão presentes os mais importantes nomes da intelectualidade pernambucana. Engenheiros, jornalistas, publicitários, escritores, poetas e, naturalmente, advogados, muitos advogados. Como se sabe, há muitos anos a Faculdade de Direito do Recife fornece brilhantes causídicos, que mais cedo ou mais tarde se embrenham pela noite do Recife produzindo as mais belas páginas literárias ou originando as piadas mais engraçadas.
Algumas histórias são conhecidas, como a do aluno que não respondera a nenhuma pergunta na prova oral de Medicina e o professor Bezerra Coutinho, para provocá-lo, pediu ao bedel:
- Malaquias, traz um feixe de capim.
O aluno emendou:
- E um guaraná para mim.
Tanto quanto as histórias, toca ao coração dos mais “antigos” a lembrança de lugares que fazem parte do folclore ou da vida social recifense, como o Bar Savoy e o Restaurante Leite, entre outros. Surgem aqui e ali nomes que de alguma forma, ou em algum momento, nos emocionaram, como Carlos Luís de Andrade e Carmita, Renato Carneiro Campos, Mauro Mota, Mário Florêncio, Félix de Athayde, Paulo Cavalcanti, Carlos Fernando e José Wilker -para citar apenas os que conheci mais de perto.
O mais importante é a graça e originalidade das histórias, que se revestem de autenticidade inquestionável. Concluo com uma história que não está no livro mas é verdadeira e se enquadraria, suponho, em seu estilo e objetivos. Ao contar na redação da revista onde trabalhava (Transporte Moderno, da Editora Abril), que comprara minha primeira geladeira, um dos colegas perguntou: “Quantos pés?” – Resposta ingênua: “Quatro, ué”. E era redator de uma revista técnica.
Flávio Tiné, na coluna Deu no Jornal, do Besta Fubana
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