sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A humana súmula

A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.

E a paz se alcança com mútuo terror, 
Até crescer o egoísmo do amor: 
A Crueldade tece então a sua rede, 
E lança seu isco, cuidadosa, adrede. 

Senta-se depois com temores sagrados, 
E de lágrimas os chãos ficam regados; 
A raiz da Humildade ali então se gera 
Debaixo do seu pé, atenta, espera. 

Em breve sobre a cabeça se lhe estende 
A sombra daquele Mistério que ofende; 
É aí que Verme e Mosca se sustentam 
Do Mistério que ambos acalentam. 

E o fruto que gera é o do Engano 
Doce ao comer e tão malsano; 
E o Corvo o seu ninho ali o faz 
No mais espesso da sombra que lhe apraz. 

Todos os Deuses, quer da terra quer do mar, 
Pela Natureza esta Árvore foram procurar; 
Mas foi em vão esta procura insana, 
Esta Árvore cresce só na Mente Humana. 

William Blake, in Canções da ExperiênciaTradução de Hélio Osvaldo Alves

Nenhum comentário:

Postar um comentário