Pixinguinha
5 Companheiros - 1961
A diferença econômica entre países, ou seja, os ricos e os pobres, ou o que chamo de países classe media, aqueles que não são nem ricos nem pobres, mas sobrevivem num ritmo de crescimento ínfimo iludindo-se sempre com as promessas de seus dirigentes achando que eles imbuídos de boas intenções irão resolver seus problemas quando na realidade estão mais preocupados consigo mesmos fazendo da população massa de manobra para atingirem seus objetivos, a maioria escusos, e em nosso caso particular, político honesto no Brasil é uma mercadoria tão escassa que não anda dando sopa por aí, sendo necessário uma pesquisa muito grande, exaustiva até para ver se se encontra algum, portanto, esse imenso fosso que separa os de classe A dos de classe B ou C acaba interferindo no seu processo de desenvolvimento e divulgação cultural acarretando na maioria das vezes uma imagem preconceituosa de seus artistas, protagonizadores do ato cultural que acabam ficando estereotipados como seres exóticos de um pais primitivo ou encastelados em suas próprias fronteiras sendo que até nelas o reconhecimento muitas vezes lhes é negado.
Em nosso país existem muitos exemplos de artistas que não conseguiram uma projeção a altura de seu valor, já outros conquistaram platéias internacionais, mas, contraditoriamente, não se tornaram reconhecidos aqui e por fim há uma última classe onde se encontram aqueles que de tão fantásticos celebrizaram-se em suas próprias fronteiras mas o preconceito ou esse desnível econômico que dificulta uma maior penetração de sua arte em escala planetária não deram a eles a dimensão internacional que mereciam.
Mas esse é um processo que já conhecemos e verificamos que sua extensão diminui na medida em que passamos a ser vistos e respeitados como um país classe média, ou em desenvolvimento como querem alguns, ou até mesmo em função das mudanças ocorridas na humanidade em decorrência do avanço dos meios de comunicação que acaba desaguando no que alguns chamam de globalização, mas que eu prefiro cunhar como mundialização, o que aparentemente não é a mesma coisa, mesmo que assim pareça, já que o primeiro pressupõe que seus efeitos acabam ocorrendo em função dos problemas ocasionados pelos mais fortes não impedindo nem diminuindo o imperialismo cultural, enquanto que o outro busca unicamente a unificação e reconhecimento dos povos através da sua própria cultura.
Deixando agora um pouco de lado essas questões cujas análises reflexivas merecem um espaço maior do que esse que dispomos mas buscando integrá-los em nosso objeto aqui representado, verificaremos que se o Brasil a partir do advento da república, apenas para situarmos um marco definidor de tempo, estivesse num patamar de desenvolvimento econômico que lhe permitisse penetrar em outros espaços divulgando com mais vigor sua arte, artistas como Pixinguinha, por exemplo, teriam seu valor e sua obra reconhecidos mundialmente, já que, não se deve fazer comparações mas aqui me arrisco a fazê-la, se Louis Armstrong foi o homem que elevou o jazz nos Estados Unidos a uma condição de grandeza e representatividade da cultura americana jamais superada, o nosso Alfredo da Rocha Viana Junior, o fez com a mesma competência no Brasil, somente não alcançando as glorias universais e divulgando nossa musica, e aqui exclui-se uma única excursão feita por ele e os 8 Batutas em 1922 a Paris, onde fizeram, sucesso, mas foi apenas um adendo em sua trajetória, pelo simples fato de ter nascido num país pobre que ainda não tinha atingido o status de classe média. Contudo, para nós, ele é e sempre será referencia obrigatória, um gênio da raça. Sua discografia não é das maiores, mas registra discos 78 rotações e LPs memoráveis como o lançado em 1961 intitulado 5 Companheiros, em que com seu saxofone se faz acompanhar ao lado de quatro grandes solistas, Abel Ferreira, clarinete; Pedrinho, flauta; Silva Leite, trombone e Irany Pinto, violino, secundados no acompanhamento por Gesse e Nelson, violões; Salvador, pandeiro; Waldemar Melo, cavaquinho; Cavalo Marinho, contrabaixo e J. Cascata na percussão.
O repertório é formado por choros da autoria de Pixinguinha, e dele com Benedito Lacerda, todos clássicos, Um a zero, Naquele tempo, Proezas de Sólon, Segura ele, Sofre porque queres, Vou vivendo, Tapa buraco, Ingênuo, Cinco companheiros, Lamento, Cochicho e Chorei. Trata-se de uma verdadeira antologia da musica popular brasileira em que se pode observar o virtuosismo de grandes artistas sob o comando de um mestre inigualável, um musico completo, já que foi instrumentista, compositor, orquestrador, cantor e maestro.
Ouvir Pixinguinha é reverenciar o que nosso país tem de melhor em termos de musica popular e reconhecer com orgulho a grandeza de um homem que soube traduzir de modo definitivo a essência mais intima de nossa gente, um ser extremamente Carinhoso com seu país cuja obra vem sendo recuperada em uma caixa com todos os seus discos produzidos por seu filho. Finalmente Pixinguinha entra na era digital, e será que ele que fazia choro por qualquer motivo batizando-os com os nomes mais corriqueiros não faria um intitulado, Os Cds do Pixinguinha? Com certeza, pois assim era o mestre, patrono e referencia de todos os músicos populares desse país.
Luiz Américo Lisboa Junior, in www.luizamerico.com.br
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