quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O amor, quando é maduro e bem-gostado, é feito bambu de lagoa: pode envergar, mas não tomba.

Ouvi dizer que paixão
É um salto duplo e mortal
De um amor aventurado
Pulando em riba um do outro
Às cegas e embriagado.
Paixão blu-blu-amoreco
Paixão pom-pom vermelhado
Paixão bolinho-com-Fanta
Paixão xaxim-aguado
Paixão arranca-porteira
Paixão do quengo-virado
Paixão ninho-de-vexame
Paixão demônia, vulcânica
De brasa, de gamação
Contramãozinha-em-paixão
Paixão de baú guardado.
A nossa era pura e alva
Feito delírio de lírio
De fuloreio nevado:
Um letreirão luminoso
De branco sebo-lavado
Com graça, luz e perfume
Sem voragem de ciúme
Sem desfavor, sem pecado.
Mas num regaço de um dia
O marimbondo da cisma
Trouxe um ferrão venenado:
Brigamos de teimosia
E ouvi daquela Maria
Este toró macriado:
 “Paixão é feito fumaça
Embaça o zói e sufoca
Quando da fé, ela passa!”
Ao ver suas nádegas gêmeas
Por capricho se afastar
Meu picadeiro da insônia
Tornou-se sala-de-estar.
Eu era casca de alpiste
Fora do cocho, assoprada
Imprestável pra semente
Pra bico da passarada
E ela, uma margarida
Dessas de plástico sem vida
De folha dura aramada.
De corpo manco, incompleto
Inflei meu orgulho reto
Pra disfarçar meu saci
Me aboletei na boleia
Duma marinete véia
Que transporta o Cariri.
Mas, no agá do vambora,
Sem nem saber pr`onde ir
Chegou em riba da hora
Com mil nasceres de aurora
Uma carta de peraí.

Jessier Quirino

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