domingo, 27 de novembro de 2011

As Castanhas de Titio

Foto: Elilson Batista

Há figuras, tipos marcantes na vida pacata das pequenas cidades interioranas. E vos apresento um dos tais: Raimundo..., dito o Titio. Moreno, baixinho, bom de conversa e de lorota, companheiro tão-só para os pagodes e pândegas triviais, do diário.
E vai que, em uma tranquila manhã serrana de Portalegre, apareceu Titio no mercadinho de Palé, produtor e também comprador de castanhas. Raimundo trazia duas bastas sacolas de castanhas para negociar com Palé. E foi logo perguntando:
- Palé, por quanto você compra o quilo da castanha?
- A noventa centavos, respondeu o negociante, já cismado ao avistar o novato vendedor, e perguntou de rompante:
- Titio, onde você arrumou essas castanhas?
E Raimundo, mostrando indignação:
- Por quê?
- Eu tou conhecendo elas. E são do meu terreno. Você não tem terras, não tem cajueiros, e mora vizinho ao meu terreno lá no Sítio Pelo Sinal, então...
E Titio, mais indignado ainda:
- Olha, Palé, eu vim pra negociar e não pra brigar! Se você não quer comprar, tem quem compre! Vou vender a Raminho e, se quiser, entre na justiça pedindo o DNA das castanhas. E agora só vendo as castanhas por 1 real o quilo!
Entre perder os lucros para o atravessador rival daqueles frutos-reis que pareciam, quiçá, escolhidos, Palé, num ranger de dentes e num esforço descomunal, comprou as próprias castanhas, agora no preço do vendedor.
E Titio saiu todo célere, o Conquistador, rumo ao Bar da Praça, para iniciar os trabalhos do dia.
Elilson José Batista, in Inéditos & Afins

2 comentários:

  1. Obrigado Neuzza Pinhero, pelo feedback. Isso me reconforta e faz com que eu não desista do árduo e difícil - mas prazeroso - ato de divulgar arte e cultura.
    Um fraternal abraço.
    Elilson José Batista

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