Ainda hoje, se fecho os olhos e respiro fundo, chego a sentir o cheiro daquelas rapaduras, misturado a outros tantos cheiros que identificavam a bodega do meu avô.
No caderno do fiado nome de quase todos os moradores da vila Canindezinho, mas todos bons pagadores. Todo início de mês o movimento aumentava quando o povo recebia a "paga", o "aposento" e vinham quitar seus débitos e fazer nova feira.
Uma época meu avô começou a queixar-se do desaparecimento de rapaduras, especialmente das que vinham do Cariri. Quase toda semana sumia uma, às vezes duas rapaduras.
Começou-se então um processo de investigação para que se descobrisse o ladrão das rapaduras. Fiquei na incumbência de sondar a meninada, afinal uma traquinagem destas não podia partir de um adulto, roubar rapadura, tendo tantas outras coisas de valia na bodega. Minha recompensa, caso descobrisse o ladrão: uma rapadura do Cariri.
Não ganhei o prêmio. Não havia como ganhar. Durante anos guardei este segredo comigo, mas eis que acho ter chegado o momento de revelá-lo e pedir perdão ao meu avô, onde quer que ele esteja lá no céu.
Não resisti à tentação, assumo o crime, era eu o ladrão das rapaduras.
Caio César Muniz, na coluna Recitanda, de O Mossoroense, em 11/09/2011
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