domingo, 12 de junho de 2011


"Se Um Viajante Numa Noite de Inverno" é o último romance de Italo Calvino e um dos mais inteligentes dentro da sua vasta obra. Esse livro é um dos que mais se encaixam dentro das premissas necessárias para a boa literatura propostas pelo próprio Calvino: leveza, multiplicidade, exatidão, rapidez, visibilidade e consistência.
A estória é muito peculiar. Um leitor e uma leitora tentam ler o último livro de Italo Calvino (curiosamente intitulado - "Se Um Viajante Numa Noite de Inverno"), mas são impossibilitados por uma edição defeituosa ou seu misterioso desaparecimento. Assim, por uma ironia do destino, os dois vão tentando ler romances dos mais variados tipos sem nunca conseguir terminá-los. Calvino mostra toda sua maestria ao inserir no livro dez fragmentos de narrativas totalmente diferentes, tudo isso em paralelo com a estória do “Leitor” (que ele amigavelmente chama de você) e da “Leitora” (Ludmila ou você feminino). Com isso, meio sem querer, eles acabam se envolvendo num esquema de falsificação de livros e descobrem por que não conseguem nunca encontrar um volume inteiro.
A organização complexa do livro só demonstra a postura eclética e multifacetada de Italo Calvino. "Se Um Viajante Numa Noite de Inverno" ataca a padronização e a visão ultra-capitalista das editoras para com obras de arte. Calvino faz do exagero uma forma de protesto e sátira contra a leitura sem prazer ou metodológica, ele deixa claro que o deleite ao se ler tem que ser maior do que o estudo e a visão formalista de uma obra.
Italo Calvino é considerado por muitos o maior escritor italiano do século XX. Perspicaz, criativo, intelectual e essencialmente original, Calvino criou obras impressionantes e altamente inovadoras, sendo um ícone da literatura contemporânea, e certamente "Se Um Viajante Numa Noite de Inverno" é uma de suas maiores e melhores obras.

Luís Cristóvão, in Recanto das Letras 

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