sexta-feira, 10 de junho de 2011

A poética de resistência de Trilussa


           Trilussa, poeta italiano, cujo nome verdadeiro era Carlo Alberto Salustri, viveu no tempo de Mussolini e ousou escrever fábulas criticando ferinamente o regime fascista. Segundo Paulo Duarte, tradutor de sua obra, Trilussa reuniu cinquenta poemas em Libro muto (livro mudo), cuja edição logo se esgotou: “O fascismo, como sempre acontece em momentos tais, só descobriu que o Livro mudo era um protesto violento, escarnecedor e mordente quando [o livro] já estava na rua”. Mas também explica que Mussolini, no seu tempo de socialismo e boêmia, foi amigo de Trilussa, o que talvez justifique sua complacência com o poeta. Se bem que não se pode negar um certo oportunismo perante tão ilustre personalidade, famosa no mundo inteiro. Quando um escritor perguntou a Mussolini a respeito da censura rigorosa que fazia calar toda crítica, ele teria retrucado: “Abolição da liberdade? E Trilussa?...”.

Números

Eu valho muito pouco, sou sincero,
Dizia o Um ao Zero,
No entanto, quanto vales tu? Na prática
És tão vazio e inconcludente
Quanto na matemática.
Ao passo que eu, se me coloco à frente
De cinco zeros bem iguais
A ti, sabes acaso quanto fico?
Cem mil, meu caro, nem um tico
A menos nem um tico a mais.
Questão de números. Aliás é aquilo
Que sucede com todo ditador
Que cresce em importância e em valor
Quanto mais são os zeros a segui-lo.

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