Cultura também é política, não custa nada lembrar
Ainda sobre a polêmica do cantor e compositor Chico César com as bandas de “forró de plástico”, como apelidou o também Secretário de Cultura da Paraíba, mantenho a mesma impressão diante do fato desde que tomei conhecimento dele há uns 15 dias. Bem melhor que nós, cearenses, estão eles, os paraibanos, penso eu, por ter a sua cultura resguardada pela política num jogo jogado às claras e com jogadores facilmente identificados.
Quando Chico César diz que não vai gastar dinheiro público com bandas que avalia de qualidade duvidosa ele está, na verdade, promovendo (ou explicitando) um encontro entre cultura e política. Encontro raro, vale dizer, já que a gestão da cultura no Brasil não passa de adorno para muitas administrações. Quando defende o apoio a grupos ligados a tradição e sem tanta inserção no mercado, Chico César está, politicamente, intervindo na cultura. Ou vice e versa.
Ele não cerceia nem censura a produção: comercialmente, as bandas de plástico tem vitalidade suficiente para se manter atuantes. Ele não limita o consumo: quem gosta desse tipo de música segue livre, como qualquer outro cidadão brasileiro, a expressar sua opção. No entanto, Chico César altera de forma categórica a lógica do fomento: tira dinheiro público de onde sobra recurso de outras fontes e leva esse mesmo dinheiro para onde ele não costuma chegar. Que efeito isso terá? Só o tempo dirá.
Exemplos, por aí, sinalizam alguns cenários possíveis. Recentemente, o Carnaval pernambucano se reinventou quando Recife optou por não disponibilizar mais seus espaços públicos para micaretas no estilo baiano. Antes disso, porém, a polêmica correu solta. É nessas horas que a cultura deixa de ser o patinho feio dos governos e revela que movimenta muito dinheiro e, na cola dele, uma série de interesses. É fato: que falta nos faz um Chico César ou, pelo menos, um secretário da cultura.
Magela Lima - Editor executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento do Jornal O POVO
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