quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Paisagem perfeita

Nós precisávamos aceitar o mundo como ele era:
A babá sentada passiva no parque
Era raramente abordada por algum príncipe de mentira.
As manhãs pareciam iguais e imutáveis
Nas salas da individualidade nas quais acordávamos e ficávamos
Observando hoje se desdobrar como ontem.

Nossos amigos não eram beldades do outro mundo,
Nem sabiam seduzir com palavras; nossos amantes falharam
Agora e sempre quando o que mais buscamos é a perfeição,
Ou nos esconder no armário, quando os céus trovejavam.
A humanidade surgia para nos assombrar em todos os lugares,
Crua, defeituosa e exigindo mais do que podíamos dar.

E o tempo estava sempre em disparada como um bonde
Pelas ruas de uma cidade estrangeira, cidades que vimos
Se abrindo em grandes e ensolaradas praças
Nós não encontraríamos novamente, nenhum mapa poderia mostrar —
Jamais aquelas fontes jorraram sob aquela mesma luz,
Aquelas árvores douradas, aquelas estátuas verdes e brancas.

Adrienne Rich (tradução de André Caramuru Aubert)

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