Chamaram-me
ao escritório do conselheiro em uma daquelas salas do fundo do
segundo andar.
— Deixe-me
dar uma olhada no senhor, Chinaski.
Ele
olhou para mim.
— Arre,
o senhor não parece bem. É melhor eu pegar um comprimido.
Sem
pestanejar, ele abriu um frasco e pegou um comprimido.
— Tudo
bem, sr. Chinaski. Gostaríamos de saber onde esteve estes dois
últimos dias.
— De
luto.
— De
luto? De luto por quem?
— Fui
ao funeral de uma velha amiga. Um dia para liberar o cadáver. Um dia
de pranto.
— Mas
você não telefonou avisando, sr. Chinaski.
— Pois
é.
— Só
quero lhe dizer uma coisa, Chinaski, cá entre nós.
— Tudo
bem.
— Quando
o senhor não telefona, sabe o que está dizendo?
— Não.
— O
senhor está dizendo “Fodam-se os Correios!”, sr. Chinaski.
— Sério?
— E
sr. Chinaski, o senhor sabe o que isso significa?
— Não.
O que isso significa?
— Significa,
sr. Chinaski, que os Correios vão foder com o senhor!
Então
ele se recostou e olhou para mim.
— Sr.
Feathers — eu lhe disse —, o senhor pode ir para o inferno.
— Não
dê uma de esperto, Henry. Posso acabar com você.
— Por
favor, dirija-se a mim pelo meu nome completo, senhor. Peço-lhe
simplesmente um pouco de respeito de sua parte.
— O
senhor me pede respeito, mas...
— É
isso mesmo. Sabemos onde o senhor estaciona, sr. Feathers.
— O
quê? Isso é uma ameaça?
— Os
negros me adoram por aqui, Feathers. Eu os levo na conversa.
— Os
negros te adoram?
— Eles
me dão água. Chego até a trepar com as mulheres deles. Ou ao menos
tento.
— Muito
bem. Isso está saindo dos limites. Por favor, volte às suas
obrigações.
Ele
me devolveu o crachá de viagem. Estava preocupado, a pobre criatura.
Eu não tinha levado os negros na conversa. Não tinha enrolado
ninguém senão o Feathers. Mas não se podia culpá-lo por se
preocupar. Um dos supervisores tinha sido empurrado escada abaixo. Um
outro tinha tido o cu rasgado ao meio. Outro ainda foi esfaqueado na
barriga enquanto esperava o sinal na calçada às três da manhã.
Bem em frente ao Correio Central. Nunca mais o vimos.
Feathers,
logo depois que falei com ele, sumiu da Central. Não sei exatamente
onde foi parar. Mas foi longe do escritório central.
Charles Bukowski, in Cartas na Rua
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