quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Cartas na Rua | 15


Chamaram-me ao escritório do conselheiro em uma daquelas salas do fundo do segundo andar.
Deixe-me dar uma olhada no senhor, Chinaski.
Ele olhou para mim.
Arre, o senhor não parece bem. É melhor eu pegar um comprimido.
Sem pestanejar, ele abriu um frasco e pegou um comprimido.
Tudo bem, sr. Chinaski. Gostaríamos de saber onde esteve estes dois últimos dias.
De luto.
De luto? De luto por quem?
Fui ao funeral de uma velha amiga. Um dia para liberar o cadáver. Um dia de pranto.
Mas você não telefonou avisando, sr. Chinaski.
Pois é.
Só quero lhe dizer uma coisa, Chinaski, cá entre nós.
Tudo bem.
Quando o senhor não telefona, sabe o que está dizendo?
Não.
O senhor está dizendo “Fodam-se os Correios!”, sr. Chinaski.
Sério?
E sr. Chinaski, o senhor sabe o que isso significa?
Não. O que isso significa?
Significa, sr. Chinaski, que os Correios vão foder com o senhor!
Então ele se recostou e olhou para mim.
Sr. Feathers — eu lhe disse —, o senhor pode ir para o inferno.
Não dê uma de esperto, Henry. Posso acabar com você.
Por favor, dirija-se a mim pelo meu nome completo, senhor. Peço-lhe simplesmente um pouco de respeito de sua parte.
O senhor me pede respeito, mas...
É isso mesmo. Sabemos onde o senhor estaciona, sr. Feathers.
O quê? Isso é uma ameaça?
Os negros me adoram por aqui, Feathers. Eu os levo na conversa.
Os negros te adoram?
Eles me dão água. Chego até a trepar com as mulheres deles. Ou ao menos tento.
Muito bem. Isso está saindo dos limites. Por favor, volte às suas obrigações.
Ele me devolveu o crachá de viagem. Estava preocupado, a pobre criatura. Eu não tinha levado os negros na conversa. Não tinha enrolado ninguém senão o Feathers. Mas não se podia culpá-lo por se preocupar. Um dos supervisores tinha sido empurrado escada abaixo. Um outro tinha tido o cu rasgado ao meio. Outro ainda foi esfaqueado na barriga enquanto esperava o sinal na calçada às três da manhã. Bem em frente ao Correio Central. Nunca mais o vimos.
Feathers, logo depois que falei com ele, sumiu da Central. Não sei exatamente onde foi parar. Mas foi longe do escritório central.

Charles Bukowski, in Cartas na Rua

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