domingo, 15 de janeiro de 2023

Pretende agora persuadir a um ribeirinho a que não corra. Temendo, que se perca: que é muito próprio de um louco enamorado querer que todos sigam o seu capricho, e resolve a cobiçar-lhe a liberdade

Como corres, arroio fugitivo?
Adverte, para, pois precipitado
Corres soberbo, como o meu cuidado,
Que sempre a despenhar-se corre altivo.

Toma atrás, considera discursivo,
Que esse curso, que levas apressado,
No caminho, que emprendes despenhado
Te deixa morto, e me retrata ao vivo.

Porém corre, não pares, pois o intento,
Que teu desejo conseguir procura,
Logra o ditoso fim do pensamento.

Triste de um pensamento sem ventura!
Que tendo venturoso o nascimento,
Não acha assim ditosa a sepultura.

Gregório de Matos, in Antologia Poética

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