“A cada dia que vivo, mais me convenço
de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas
forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e
que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
Foi a frase – que rola pela internet
atribuída a vários autores diferentes – que minha amiga amada
pediu para pintarem na parede do quarto quando começou a
quimioterapia. E ela viveu todos os seus dias intensamente, com um
sorriso no rosto, pedindo pra ficar mais um pouco.
Até que um dia ela se foi. E eu, aos 18
anos, me prometi que viveria por mim e por ela. Que não teria medo
de arriscar e que nunca faria da minha vida um mero encadeamento de
dias. Estou tentando.
Então, diariamente, uma pergunta martela
na minha cabeça: quanto tempo perdemos? E quanto tempo ainda vamos
perder?
Porque me falta tempo; porque acordo cedo
amanhã; porque estou com enxaqueca; porque estou de dieta. Com
excesso de zelo, excesso de cautela, excesso de fé na ideia de que
sempre pode ficar para amanhã.
Chega, vai. A vida é só uma e passa
correndo. Quando a gente vê, já passaram as chances e tudo o que
sobra na cabeça é um triste e fosco rol de hipóteses não tentadas
e de riscos não corridos.
E essa conversa não é necessariamente
sobre projetos grandiosos. É simplesmente sobre sopros de liberdade.
Sobre uma vida mais feliz por ter menos regras intransponíveis.
É sobre pegar um cinema sozinho, de
preferência numa terça-feira.
Sobre comprar uma passagem poucas horas
antes do voo. E ir só com a roupa do corpo.
Sobre voltar da padaria com um sonho pro
porteiro do prédio.
Sobre ir de pijama à garagem buscar
aquele negócio que ficou no carro.
Sobre entrar no elevador com a toalha de
banho enrolada na cabeça.
Sobre comer jiló, javali, jaca, jacaré.
Sobre pedir desculpas por um erro de
2002.
Sobre pegar insetos nas mãos.
Sobre ligar, dizer que sente falta, que
sente muito, que sente que pode ser agora.
Sobre comprar aquela peça de roupa que
você sempre namorou, mas que acha inadequada para a sua idade ou
para o seu tipo físico.
Sobre fazer caretas para as crianças da
van escolar no trânsito.
Sobre parar num bar e tomar uma, duas,
três cervejas só na sua companhia, em horários incomuns.
Sobre deitar na cama, dormir de roupa,
sem escovar os dentes.
Sobre finalmente mandar pessoas tóxicas
à merda.
Sobre cortar curtinho, pular do alto,
nadar no fundo.
Sobre um belo dia resolver mudar e fazer
tudo o que se quer fazer, se libertando daquela vida vulgar que a
Rita Lee cantou.
Sobre não se render mais um dia à tal
prudência egoísta que nada arrisca da frase lá do início.
Porque é fácil levar uma vida banal e
queixar-se dela. Mas será que quando a vida não é fantástica a
culpa é do destino ou a culpa é nossa? Eu não sei se a vida é
curta, mas sei que essa vida é uma só. E que o tempo não volta.
A gente tem que fazer o que tem que ser
feito.
Pode ser hoje. Façamos ser hoje.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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