Minha namorada, quando chega ao orgasmo,
grita “Ilan”. Não uma vez só, muitas. “Ilan-Ilan-Ilan-Ilan!”
Isto é legal, porque sou nascido e criado Ilan. Mas às vezes eu
gostaria que ela dissesse alguma outra coisa, não importa o quê.
“Meu amado.” “Me rasga ao meio”, “Para, não aguento mais”,
ou até mesmo a velha súplica “Não para!”. Seria muito bom
ouvir algo diferente, de vez em quando, algo específico em relação
à situação – uma emoção um pouco mais ligada ao ato em si.
Minha namorada estuda Direito em uma faculdade particular. Ela queria
ir para uma grande universidade, mas não foi aceita. Planeja se
especializar em direito contratual. Isso existe, advogados que tratam
só de contratos. Não se encontram com pessoas, não vão ao
tribunal, só ficam sentados o dia todo olhando sucessivas linhas
escritas no papel, como se isto fosse o mundo.
Quando aluguei o apartamento, ela estava
comigo e, em um minuto, notou que o proprietário do imóvel tentava
nos enrolar em alguma cláusula. Eu jamais teria prestado atenção,
mas ela percebeu em um segundo. Ela é assim, minha namorada, muito
perspicaz. E como tem orgasmos. Nunca vi nada igual em toda a minha
vida. Voa em todas as direções, totalmente desenfreada. Como alguém
que levou choques elétricos. E também treme de forma incontrolável,
no rosto, no pescoço, na planta dos pés. Como se todo o seu corpo
tentasse dizer obrigado e não soubesse como.
Certa vez perguntei o que ela gritava
quando gozava com outros homens, antes de mim. Com um olhar surpreso,
ela disse que com todos gritava “Ilan”. Sempre “Ilan”.
Insisti e perguntei o que ela gritava quando tinha orgasmo com
aqueles que não se chamavam Ilan. Ela pensou por um instante e disse
que nunca tinha transado com alguém que não se chamasse Ilan. Ela
já saíra com vinte e oito rapazes, eu incluído, e todos, agora que
pensava a respeito, se chamavam Ilan. Depois que ela disse isso,
ficou calada. “É uma tremenda coincidência”, eu disse. “Ou
talvez você nos escolha assim, Ilans.” “Talvez”, ela disse
pensativa, “talvez”.
A partir daquele dia comecei a ficar mais
atento a todos os Ilans ao meu redor: o do banco, o meu contador,
aquele abusado que sempre aparece de manhã no nosso café e me pede
para tirar o caderno de esporte. Não fiz um alarde disso, só
registrei na minha cabeça Ilan + Ilan + Ilan. Porque no fundo no
fundo, eu sabia que quando o caos se desencadeasse, caso de fato se
desencadeasse, seria a partir de um deles.
Estranho, mas já lhes contei tanto sobre
a minha namorada e não disse sequer o nome dela. Como se não
tivesse nenhuma importância. Realmente não é importante. Se vocês
me acordarem no meio da noite, não será o nome dela que virá em
minha mente. Tenho certeza de que será este olhar meio de surpresa
que ela tem um segundo antes de começar a chorar; a bunda dela; o
jeito encantador que sempre fala, como uma menina, “Queria te dizer
uma coisa”, antes de falar sobre algo que a emociona. Ela é
fantástica, a minha namorada, fantástica. Mas às vezes não tenho
certeza de que esta história acabará bem.
O proprietário do nosso apartamento,
aquele que quis nos engabelar no contrato, também se chama Ilan. Um
cara com uns cinquenta anos, nojento, que recebeu de herança da
falecida avó um prédio inteiro na rua Wormaisa e não faz mais nada
além de recolher cheques dos inquilinos. Tem uns olhos azuis de
aviador, cabelo prateado como uma nuvem. Mas ele não é aviador.
Quando assinamos o contrato, ele me contou que prestou todo o serviço
militar em Tsrifin, fazendo trabalho burocrático em uma base de
transporte. Há poucos anos sua unidade de reserva desistiu de tentar
localizá-lo.
Foi completamente por acaso que descobri
que eles estavam trepando. Se ela não tivesse compartilhado comigo
toda esta história dos Ilans, eu nem teria suspeitado. Quando peguei
os dois em casa, ele estava na sala, completamente vestido, e disse
que tinha vindo verificar se não estávamos destruindo sua
propriedade. Mas depois que ele foi embora, eu a pressionei e ela
confessou. Mas sem nenhuma culpa. Em tom factual e seco. Como alguém
que diz que o ônibus da linha cinco não vai até a estação norte
do trem. E assim que acabou de confessar, disse que queria me pedir
algo. O que ela queria pedir era que fizéssemos aquilo uma vez
juntos. Ele e eu, juntos.
Ela estava até disposta a fazer um
acordo comigo. Se a gente fizesse aquilo apenas uma vez, ela nunca
mais sequer olharia para ele. Apenas uma vez na vida ela gostaria de
sentir dois Ilans de uma vez só dentro dela. Ele certamente vai
concordar, já que é um pervertido entediado. Ela tem certeza disso.
E no final, eu também concordarei, porque eu a amo. Realmente amo.
E eis por que me vejo na cama com o meu
locador. Um instante antes de tirar a roupa, ele ainda chama a minha
atenção para a persiana da cozinha, que não fecha bem e que é
preciso lubrificar os eixos. Depois de um tempo, o corpo da minha
namorada começa a tremer sobre mim e eu sinto que daqui a pouco ela
vai gozar. E quando ela gritar, tudo ficará bem, porque o nosso nome
é realmente Ilan. Mas jamais saberemos se o grito dela será por mim
ou por ele.
Etgar Keret, in De repente, uma batida na porta
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