quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sozinho

[Quando no aeroporto me deram a notícia de que havia ganhado o prêmio Nobel] senti, por um lado, uma enorme felicidade, uma enorme alegria, mas me dei conta de que a alegria, se se está sozinho, é nada.
Quando abandonei a sala de embarque em direção à saída, encontrei uma espécie de recolhimento e uma serenidade estranhíssima. Tive de percorrer um corredor imenso, completamente deserto. E, então eu, o prêmio Nobel, o pobre senhor que ali ia completamente sozinho, levando a sua mala na mão e a sua gabardina debaixo do braço, dizendo: “Pois parece que sou o prêmio Nobel”, e ali a solidão daquele corredor imenso. Não me senti no pináculo do mundo, pelo contrário. Senti-me sozinho com muita pena que a minha mulher [Pilar del Río] não estivesse comigo.
José Saramago, in As palavras de Saramago

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