“Quanto
ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se
adão e eva tinham tido problemas com a instalação doméstica, a
segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência
da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não
esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraísos
existentes no espaço celeste. De fato, só viria a aparecer muito
mais tarde, em data de que não ficou registo, para expulsar o
infeliz casal do jardim do éden pelo crime nefando de terem comido
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Este episódio,
que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado
original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a
inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em
compreender que estar informado sempre será preferível a
desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do
bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a
uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por
inventar.
José
Saramago, in Caim
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