sábado, 31 de dezembro de 2011

A fonte da felicidade reside dentro de nós


“O hábito de me recolher a mim mesmo acabou por me tornar imune aos males que me acossam, e quase me fez perder a memória deles. Desse modo, aprendi com base na minha própria experiência que a fonte da felicidade reside dentro de nós e que não está no poder dos homens fazer com que fique realmente desgostosa uma pessoa determinada a ser feliz. Por quatro ou cinco anos desfrutei regularmente de alegrias interiores que almas gentis e afetuosas encontram numa vida de contemplação”.
Jean-Jacques Rousseau, in Devaneios de um Caminhante Solitário

Feliz dia para quem é


Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma pra os ter!

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um belíssimo Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz
Ano Novo sem comparação
Como todo o tempo já vivido
(Mal vivido ou talvez sem sentido)

Não precisa fazer lista
De boas intenções
Para arquivá-las na gaveta
Não precisa chorar de arrependimento
Pelas besteiras consumadas

Para ganhar um Ano-Novo
Que mereça esse nome
Você, meu caro, tem de merecê-lo
Tem de fazê-lo de novo
Eu sei que não é fácil
Mas tente, experimente, consciente
É dentro de você que o ano novo
Cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade


“Borges se irritava quando lhe perguntavam: (parecia-lhe uma pergunta idiota e ele respondia) Para que serve a literatura? ‘A ninguém ocorreria perguntar qual é a utilidade do canto de um canário ou dos arrebóis do crepúsculo!’”

Vaia de bêbado não vale


Primeira edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil 

Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis

Criando a bossa nova em 58
O Brasil foi protagonista
De coisa que jamais aconteceu
Pra toda a humanidade
Seja na moderna história
Seja na história da antiguidade
E por isso, meu nego,
Vaia de bebo não vale
De bebo vaia não vale
bis

Segunda edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil 

Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis

Quando aquele ano começou, nas Águas de Março de 58,
O Brasil só exportava matéria-prima
Essa tisana
Isto é o grau mais baixo da capacidade humana
E o mundo dizia
Que povinho retardado
Que povo mais atrasado
bis
Terceira edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil

Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis

A surpresa foi que no fim daquele mesmo ano
Para toda a parte 

O Brasil d'O Pato
Com a bossa nova, exportava arte
O grau mais alto da capacidade humana
E a Europa, assombrada:
"Que povinho audacioso"
"Que povo civilizado" 

Pato ziguepato ziguepato Pato
Pato ziguepato ziguepato Pato 

Tratou com desacato o nosso amado Pato
desacato nosso Pato

Viva a vaia, seu Augusto
Viva a vaia, seu João
Viva a vaia, viva a vaia 
Viva a vaia com Diós, amor
Porque me soy argentino
Argentino, gentino, gentino



“A indústria cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente”.
Theodor W. Adorno