sábado, 21 de maio de 2011

Ponto de interrogação
Seria muita pretensão afirmar que estamos vivendo, plenamente, numa fase de reconhecimento e de valorização de nossos artistas. Tenho tido todo zelo e, sobretudo, muito cuidado quando o assunto diz respeito às nossas aspirações. Pois bem, o retrato mais visível dessa nossa peleja se espraia pelas ruas, becos e vielas e agoniza, muitas vezes, no corredor de nossas  angústias e medos.
Tenho alcançado, talvez, mais longe que os olhos. Que não seja privilégio de alguns poucos, pois a nossa culpa, nossa máxima  culpa é quem nos coloca diante do  espelho para uma possível  leitura desse nosso ofício de construir, através das palavras, a nossa identidade de cantador, poeta e sonhador de sonhos possíveis.
Quando a fala dominante, ou seja, a retórica de nossos gestores consegue  viabilizar o  consenso de seu  projeto de cidade, sem que tenhamos acesso ao debate público,  é  sinal de que não só  os artistas, mas todos os segmentos  que fazem parte da cidade são penalizados.
Historicamente, o nosso contexto artístico cultural vem adotando, para cada página desse nosso diário, comportamento que até então se perpetua e, por incrível que pareça, não  se tem notícia de resistência alguma com relação a tais procedimentos. Seríamos nós – artistas - destituídos totalmente de ideias  e  de sentimentos? Será que somos, simplesmente, retardatários de uma peça constituída de elementos que foram lapidados pela nossa submissão???   
Penso que da forma que foi elaborado não nos cabe, evidentemente, nessa teia de relação tão desigual,  perde os mais  fracos e, sobrevive, muito  bem, os que são legitimados pela indústria cultural que se impõe e deixam sequelas aos nossos irmãos compatriotas da terra de Santa Luzia.
Nessa briga que se instala de forma perversa na arena de tanta competitividade, lamentavelmente, ainda insiste muito pouco os que não pactuam com a  leviandade, com a pseudo ideia de que o  palco, depois de muito bem projetado, possa servir, apenas, aos urubus de plantão que nos roubam a paciência e deixa para o  dia seguinte o lixo da insensatez e da intolerância.
Por mais que tentemos acertar o passo rumo a consolidação de nossos projetos, mais adotamos o discurso da individualidade. Por tudo isso, paga-se um preço muito alto dessa nossa ausência de companheirismo e de respeito  aos nossos ilustres parceiros. Se não sentarmos um dia para afinarmos os nossos instrumentos num mesmo diapasão, sem sombra de dúvida, não vamos estar  juntos para o mesmo espetáculo porque todas as luzes estarão  apagadas... e  assim  sucumbiremos todos  nós.
Genildo  Costa, poeta e cantador mossoroense

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