As partes do todo — de tudo que está
contido no universo de forma natural—devem necessariamente perecer.
Entenda neste sentido: devem mudar. Caso estarem sujeitas a variadas
mudanças e perecimentos lhes fosse um mal necessário, o todo não
subsistiria em boas condições. Será que a natureza planejou
danificá-las, subjugá-las e forçá-las a caírem no mal? Ou será
que ela as danifica sem perceber? Ambas as suposições são
inverossímeis.
Mesmo se abandonasse o termo
“natureza” e as considerasse espontâneas — suscetíveis à
mudança —, seria ridículo se surpreender e se aborrecer como se
fossem artificiais. Afinal, os componentes se decompõem naqueles dos
quais são compostos. Ou há uma dispersão dos elementos a partir
dos quais tudo foi composto, ou uma transição de sólido para
terreno e de etéreo para aéreo até retornarem à razão universal.
São decompostos independentemente de tudo ser consumido pelo fogo de
maneira periódica ou renovado pela eternidade.
Não ache que a sua fração sólida e
a aérea lhe pertencem desde o seu nascimento. Foram absorvidas ontem
e anteontem por meio da comida ingerida e do ar inalado. O que muda é
o que foi absorvido, não aquilo que a sua mãe pariu. O que afirmei
não é refutado nem caso aquilo tenha se envolvido com as suas
demais frações.
Marco Aurélio, em Meditações
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