terça-feira, 18 de novembro de 2025

Retorno à razão universal

As partes do todo — de tudo que está contido no universo de forma natural—devem necessariamente perecer. Entenda neste sentido: devem mudar. Caso estarem sujeitas a variadas mudanças e perecimentos lhes fosse um mal necessário, o todo não subsistiria em boas condições. Será que a natureza planejou danificá-las, subjugá-las e forçá-las a caírem no mal? Ou será que ela as danifica sem perceber? Ambas as suposições são inverossímeis.
Mesmo se abandonasse o termo “natureza” e as considerasse espontâneas — suscetíveis à mudança —, seria ridículo se surpreender e se aborrecer como se fossem artificiais. Afinal, os componentes se decompõem naqueles dos quais são compostos. Ou há uma dispersão dos elementos a partir dos quais tudo foi composto, ou uma transição de sólido para terreno e de etéreo para aéreo até retornarem à razão universal. São decompostos independentemente de tudo ser consumido pelo fogo de maneira periódica ou renovado pela eternidade.
Não ache que a sua fração sólida e a aérea lhe pertencem desde o seu nascimento. Foram absorvidas ontem e anteontem por meio da comida ingerida e do ar inalado. O que muda é o que foi absorvido, não aquilo que a sua mãe pariu. O que afirmei não é refutado nem caso aquilo tenha se envolvido com as suas demais frações.

Marco Aurélio, em Meditações

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