Montezuma
venceu em Teuctepec.
Nos
adoratórios, ardem os fogos. Ressoam os tambores. Um atrás do
outro, os prisioneiros sobem as arquibancadas até a pedra redonda do
sacrifício. O sacerdote crava-lhes no peito o punhal de pedra, ergue
o coração em uma das mãos e mostra-o ao sol que brota dos vulcões
azuis.
A
que deus oferece o sangue? O sol o exige, para nascer cada dia e
viajar de um horizonte ao outro. Mas as ostentosas cerimônias da
morte também servem a outro deus, que não aparece nos códices nem
nas canções.
Se
esse deus não reinasse sobre o mundo, não haveria escravos nem
amos, nem vassalos, nem colônias. Os mercadores astecas não
poderiam arrancar dos povos submetidos um diamante a troco de um
feijão, nem trocar uma esmeralda por um grão de milho, nem ouro por
guloseimas, nem cacau por pedras. Os carregadores não atravessariam
a imensidão do império em longas filas, levando nas costas
toneladas de tributos. O povo ousaria vestir túnicas de algodão e
beberia chocolate e teria a audácia de mostrar proibidas plumas de
quetzal e pulseiras de ouro e magnólias e orquídeas reservadas aos
nobres. Cairiam, então, as máscaras que ocultam os rostos dos
chefes guerreiros, o bico da águia, os dentes do tigre, os penachos
de plumas que ondulam e brilham no ar.
Estão
manchadas de sangue as escadarias do templo maior e os crânios se
acumulam no centro da praça. Não somente para que se mova o sol,
não: também para que esse deus secreto decida no lugar dos homens.
Em homenagem ao mesmo deus, do outro lado do mar os inquisidores
fritam os hereges nas fogueiras ou os retorcem nas câmaras de
tormento. É o Deus do Medo. O Deus do Medo, que tem dentes de rato e
asas de urubu.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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