sexta-feira, 9 de maio de 2025

Ebony and Ivory


Ebony and Ivory
Compositor: Paul McCartney
Artista: Paul McCartney, com vocais adicionais de Stevie Wonder
Gravação: AIR Montserrat
Lançamento: Single, 1982 / Tug of War, 1982

Ebony and Ivory
Live together in perfect harmony
Side by side on my piano keyboard
Oh lord, why don’t we?

We all know
That people are the same wherever you go
There is good and bad in everyone
When we learn to live
We learn to give each other
What we need to survive
Together alive
Ebony and Ivory
Live together in perfect harmony
Side by side on my piano keyboard
Oh lord, why don’t we?

Ebony, Ivory
Living in perfect harmony
Ebony, Ivory

We all know
That people are the same wherever you go
There is good and bad in everyone
We learn to live
When we learn to give each other
What we need to survive
Together alive

Ebony and Ivory
Live together in perfect harmony
Side by side on my piano keyboard
Oh lord, why don’t we?
Side by side on my piano keyboard
Oh lord, why don’t we?

Ebony, Ivory
Living in perfect harmony
Ebony, Ivory
Living in perfect harmony

As teclas brancas e pretas convivem no piano, mas nem sempre negros e brancos viveram em harmonia. Quem fez essa observação foi Spike Milligan, certa vez.
Spike Milligan foi um comediante britânico-irlandês que escreveu e estrelou The Goon Show, radiosseriado da BBC nos anos 1950. Quando éramos adolescentes, ouvíamos o programa, que acabou se tornando uma grande influência para os Beatles, e foi também onde Peter Sellers teve sua grande chance. Teve um tempo em que George Martin trabalhou com eles também. Então, Spike morava bem perto de nossa casa em Sussex, e nós dois apreciávamos dar boas risadas, por sermos de origem irlandesa. Acho que existe essa tradição de irlandeses engraçados que se estende até Liverpool. Ele fazia reuniões e nos pedia para levar algo, e não precisava ser uma garrafa de bebida; poderia muito bem ser um poema. Então levei um poema para ele. Ele morava numa casa com uma placa que dizia: “Projetada pelo arquiteto cego”, e a estrada onde ficava a casa se chamava – não estou brincando – Dumb Woman’s Lane (Estrada da Mulher Muda). Acho que se referia a uma senhora que não conseguia falar. Escrevi um poema sobre Dumb Woman’s Lane, levei para ele e o li antes do jantar.
O poema começava assim:

The voice of the poet
Of Dumbwoman’s Lane
Can be heard across
Valleys of sugar-burned cane
And nostrils that sleep
Through the wildest of nights
Will be twitching to gain
Aromatic insights

A voz do poeta da Estrada
Da Mulher Muda é ouvida
Nos vales de açúcar
De cana queimada
E as narinas que dormem
Em noites selváticas
Retorcem-se e obtêm
Percepções aromáticas

Ebony and Ivory” foi escrita em resposta ao problema da tensão racial, causa de muitos atritos no Reino Unido naquela época. Eu a compus e gravei uma demo em meu estudiozinho lá na Escócia, em 1980; então liguei para o Stevie Wonder e perguntei se ele queria fazer uma parceria. Stevie e eu nos conhecíamos havia um tempão. Fomos apresentados em 1966, após um show que ele fez no clube Scotch of St. James, em Mayfair, Londres. Ele só tinha quinze anos na época. Seja lá como for, estávamos pensando em compor algo juntos, e eu falei: “Olha só, eu tenho esta canção que eu gostaria especialmente de fazer”. Então fomos gravar o álbum em Montserrat. Lá que ficava o estúdio de George Martin, e Stevie combinou de ir, mas não compareceu. Como em geral acontece com Stevie, muitos telefonemas depois, conseguimos contato com ele. “Estamos aqui. Quando você vai aparecer?” Era sempre “nesta sexta-feira”.
Mas passava o fim de semana, e na segunda-feira eu ligava para ele. “Vou estar aí na quarta-feira.” “Legal, então.” Teve muito disso. Ele faz seu cronograma. Vai aparecer quando estiver pronto. Mas foi sensacional quando ele chegou. Foi mesmo fascinante, porque ele é um monstro musical; ele é música pura. Você tinha que ser impecável, pois ele escutava qualquer deslize. Perguntou se íamos usar bateria eletrônica e eu disse que não, então ele pegou a bateria e mostrou que era um grande baterista, com um estilo bem característico, e é ele tocando no disco. A canção toda é só eu e Stevie.
Quando fomos gravar o vídeo, foi a mesma coisa. Tudo agendado. Equipe, estúdio, técnicos, cinegrafistas, etc. Stevie deveria aparecer na segunda-feira de manhã, por exemplo, mas ele não aparecia. Chegar até ele era um desafio. Funcionava mais ou menos assim: “Agora o sr. Wonder está gravando no estúdio. Vai me desculpar, mas quem está falando?”. “É o Paul McCartney. A gente se conhece; já trabalhamos juntos.” “Certo. É que ele está trabalhando e não pode ser incomodado.” Então isso se prolongou até ficarmos cerca de uma semana atrasados para fazer o vídeo, mas enfim ele apareceu. De modo que, sim, foi ótimo trabalhar com ele, mas sempre tinha essa questão dos atrasos, de não estar lá na hora marcada. Coisa com a qual eu não estava acostumado, diga-se de passagem.
Nunca pensei que “Ebony and Ivory” fosse resolver os problemas do mundo, mas acho que o coração da música estava no lugar certo. O pessoal zombou da canção, é claro. Uns acharam muito sentimental ou simplista, talvez. Eddie Murphy fez um esquete dela no Saturday Night Live. É o tipo de coisa fácil de parodiar.
Toquei esta canção uma ou duas vezes ao vivo. Uma delas foi na Casa Branca, junto com Stevie, quando recebi o Prêmio Gershwin, pouco depois que Barack Obama se tornou presidente. Que honra! Muita gente incrível compareceu. Elvis Costello cantou “Penny Lane”, Stevie cantou “We Can Work It Out” e – foi uma das primeiras vezes que a tocamos ao vivo juntos – ele e eu tocamos “Ebony and Ivory”.

Paul McCartney, em As Letras – 1956 até o presente

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