sexta-feira, 9 de maio de 2025

De velhas e novas tábuas

11.

Esta é a minha compaixão por tudo que é passado: que eu o veja abandonado —
abandonado à mercê, ao espírito, à loucura de toda geração, que vem e reinterpreta tudo o que foi como uma ponte para si!
Um grande tirano poderia vir, um astucioso monstro que, com sua clemência ou inclemência, compelisse e espremesse tudo que é passado: até que este se tornasse uma ponte para ele, e prenúncio, arauto e canto de galo.
Mas este é o outro perigo, e minha outra compaixão: — a memória de quem é da plebe remonta até o avô — com o avô, porém, o tempo acaba.
Assim tudo passado é abandonado: pois poderia suceder que um dia a plebe se tornasse senhora e afogasse todo o tempo em águas rasas.
Por isso, ó meus irmãos, é necessário ter uma nova nobreza, que seja inimiga de toda plebe e toda tirania e novamente escreva a palavra “nobre” em novas tábuas.
Pois são necessários muitos e diferentes nobres para que haja nobreza! Ou, como um dia falei, em alegoria: “Justamente isso é divino, que haja deuses, mas nenhum Deus!”.

Friedrich Nietzsche, em Assim falou Zaratustra

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