Muitos
falam dessa escritora loira e misteriosa que se refugiou numa fazenda
tipo “convento colonial”. Uns contam que ela supervisiona a
lavoura na fazenda, outros afirmam que ela vive tão feliz que nem
sequer pensa mais em vir a São Paulo, há os que juram que essa fuga
para o interior é uma “atitude”. Ela esclarece tudo.
“Eu
senti que em São Paulo não iria mais poder trabalhar. Com a vida
agitada demais, não iria mais ser possível, pelo menos como eu
pretendia trabalhar. Acontece que, ao mesmo tempo que sentia isso, li
Carta a El Greco, do escritor grego Kazantzákis e esse homem
e esse livro modificaram a minha vida totalmente. Pensei comigo
mesmo: ‘Vou mudar de vida’. Eu tinha criado para mim uma imagem
que não era real. Agora é a verdade. Não foi, portanto, uma fuga.
Foi só uma volta à minha verdade, à minha realidade”.
E
quanto a essa estória de supervisionar a lavoura? Hilda ri: “Mas
eu não tenho nem lavoura!”.
Hilda
acorda às seis da manhã, mas só se levanta às 7h30. Depois do
café, trabalha no escritório até às 11h, mais ou menos. Dá então
um passeio pela fazenda com os seus cachorros. Depois do almoço lê,
conversa, e volta à tardinha para o escritório e para a máquina de
escrever. Janta cedo, lê à luz de um lampeãozinho de querosene (na
Casa do Sol não há luz elétrica, nem telefone) e vai dormir antes
das dez da noite.
Onde
quer que esteja, na casa, durante o dia, ouve as batidas de um formão
na madeira: é Dante Casarini, seu marido, que faz esculturas de
madeira, imensas, místicas e lindíssimas.
Cristiano Diniz, in Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst
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