Lançado
como um choro instrumental em disco do próprio Jacob do Bandolim em
1957, “Noites cariocas” ganhou os versos de Hermínio Bello de
Carvalho em 1978, nove anos após a morte do bandolinista, a pedido
de Gal Costa. Apesar da diferença de duas décadas, e de alguma
polêmica levantada pelos que não admitem parcerias póstumas e os
que sustentam que os versos desvirtuam a essência do gênero,
resultou em um casamento perfeito entre música e letra.
A
canção foi lançada por Gal Costa no show Gal tropical, que
estreou em janeiro de 1979, em seguida, também foi incluída em seu
álbum de grande sucesso. Nessa primeira gravação a música tinha
um subtítulo, “Minhas noites sem sono”, que acabou sendo
esquecido por Hermínio. “Noites cariocas” já dizia tudo.
Como
muitos choros cantados, “Noites cariocas” exige grande precisão
vocal; é música para grandes intérpretes, especialistas em driblar
os desvios e as curvas criados pelos muitos acidentes melódicos e
rítmicos de um gênero basicamente instrumental, às vezes em
andamentos vertiginosos. No auge de sua técnica, Gal deu show,
conquistando nas rádios um grande sucesso para um gênero que, na
época, vivia uma renascença. Em seguida, a parceria póstuma de
Jacob e Hermínio seria gravada por Ademilde Fonseca, a rainha do
chorinho, e por Áurea Martins.
Um
dos grandes mestres do choro, Jacob do Bandolim (Jacob Pick
Bittencourt, 1918-1969) se interessou pela música no início da
adolescência, graças a um vizinho violinista. Autodidata, do
violino passou para o bandolim, instrumento que virou seu sobrenome
artístico. Rigoroso em suas opções estéticas, para não ceder às
pressões comerciais, Jacob sempre se dividiu entre a música e
outras atividades profissionais. Ao morrer, em 1969, mesmo já
consagrado como instrumentista e compositor, ainda trabalhava como
escrivão de polícia.
O
poeta, escritor, compositor e produtor cultural carioca Hermínio
Bello de Carvalho (1935) foi um grande amigo e profundo conhecedor da
obra de Jacob, e se tornou um especialista na difícil arte de criar
letras sobre composições instrumentais. Do mesmo Jacob ele também
letrou “Benzinho” e “Doce de coco”, assim como Vinicius de
Moraes já havia feito uma letra para o choro “Odeon”, de Ernesto
Nazareth, a pedido de Nara Leão, e o poeta Ferreira Gullar criou uma
soberba letra à altura de “O trenzinho do caipira”, de
Villa-Lobos, gravada por Edu Lobo, legitimando a prática.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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