sábado, 8 de julho de 2023

Noites cariocas | Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho, 1979


Lançado como um choro instrumental em disco do próprio Jacob do Bandolim em 1957, “Noites cariocas” ganhou os versos de Hermínio Bello de Carvalho em 1978, nove anos após a morte do bandolinista, a pedido de Gal Costa. Apesar da diferença de duas décadas, e de alguma polêmica levantada pelos que não admitem parcerias póstumas e os que sustentam que os versos desvirtuam a essência do gênero, resultou em um casamento perfeito entre música e letra.
A canção foi lançada por Gal Costa no show Gal tropical, que estreou em janeiro de 1979, em seguida, também foi incluída em seu álbum de grande sucesso. Nessa primeira gravação a música tinha um subtítulo, “Minhas noites sem sono”, que acabou sendo esquecido por Hermínio. “Noites cariocas” já dizia tudo.
Como muitos choros cantados, “Noites cariocas” exige grande precisão vocal; é música para grandes intérpretes, especialistas em driblar os desvios e as curvas criados pelos muitos acidentes melódicos e rítmicos de um gênero basicamente instrumental, às vezes em andamentos vertiginosos. No auge de sua técnica, Gal deu show, conquistando nas rádios um grande sucesso para um gênero que, na época, vivia uma renascença. Em seguida, a parceria póstuma de Jacob e Hermínio seria gravada por Ademilde Fonseca, a rainha do chorinho, e por Áurea Martins.
Um dos grandes mestres do choro, Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt, 1918-1969) se interessou pela música no início da adolescência, graças a um vizinho violinista. Autodidata, do violino passou para o bandolim, instrumento que virou seu sobrenome artístico. Rigoroso em suas opções estéticas, para não ceder às pressões comerciais, Jacob sempre se dividiu entre a música e outras atividades profissionais. Ao morrer, em 1969, mesmo já consagrado como instrumentista e compositor, ainda trabalhava como escrivão de polícia.
O poeta, escritor, compositor e produtor cultural carioca Hermínio Bello de Carvalho (1935) foi um grande amigo e profundo conhecedor da obra de Jacob, e se tornou um especialista na difícil arte de criar letras sobre composições instrumentais. Do mesmo Jacob ele também letrou “Benzinho” e “Doce de coco”, assim como Vinicius de Moraes já havia feito uma letra para o choro “Odeon”, de Ernesto Nazareth, a pedido de Nara Leão, e o poeta Ferreira Gullar criou uma soberba letra à altura de “O trenzinho do caipira”, de Villa-Lobos, gravada por Edu Lobo, legitimando a prática.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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