Há
meses ando acompanhando um fenômeno estranho: semanalmente tenho uma
nova amiga solteira. Mas não é qualquer tipo de solteirice, é
aquela imposta e sofrida, mais conhecida como pé na bunda.
O
mais estranho é que todas elas têm o mesmo perfil: especialmente
bonitas, especialmente inteligentes, especialmente bem-sucedidas,
especialmente bem-vestidas e especialmente bem-resolvidas.
É
uma espécie de epidemia, parece que ninguém está segura.
E
é um fenômeno generalizado. Quem não tem uma amiga fantástica que
não tenha passado por isso recentemente?
As
supostas justificativas são as mais diversas: você trabalha demais;
você é incrível demais; você é exigente demais; você é
controladora demais; você é expansiva demais; você é doce demais;
você estuda demais.
Enfim,
são inegavelmente mulheres que são demais para esses caras.
E
toda semana tenho visto alguém em mar aberto. Sem rumo, sem chão,
chorando um oceano. Apavorada por achar que nunca mais vai encontrar
alguém “tão legal quanto ele”. Com medo de morrer sozinha com
sete gatos. Com medo de ter que fazer um Tinder ou de ir pra balada e
ter que ficar com um cara que usa jeans rasgado e corrente de prata.
Fico
olhando para essas mulheres. Seus cabelos impecáveis, seus
currículos invejáveis, seus empregos imponentes, mas se achando as
últimas das criaturas.
Já
desisti de tentar entender tudo isso. Dizem que é difícil entender
as mulheres, mas tentar entender esses caras me parece ainda mais
desafiador.
É
claro que sempre podemos melhorar algo no nosso comportamento para os
próximos relacionamentos. Não estou dizendo que somos perfeitas,
que não devemos repensar atitudes ou que estamos acima do bem e do
mal.
Mas
sério, queridas, não se culpem.
Não
se perguntem se a culpa do término é daquela celulite que sempre
aparece na sua coxa esquerda quando você cruza a perna. Nem se é
daquele pijama de bolinha que você usa no inverno. Nem dos três
quilos que você não perdeu. Nem dos livros que você leu enquanto
ele roncava. Nem do fato de você babar quando dorme. Nem daquele fim
de semana em que não deu tempo de depilar a perna.
Nem
de nada! Nem dos seus erros, nem dos seus defeitos, nem das suas
crises!
A
culpa não é sua. E talvez nem dele. Acabou, acabou.
Talvez
ele peça para voltar, talvez não. Talvez ele implore, talvez você
não queira. Talvez você fraqueje, talvez siga como a rainha do
gelo. Talvez ele apareça com uma mulher com 3m de perna e peitos na
altura do queixo. Talvez ele vire gay. Talvez ele se apaixone pela
mulher mais feia do bairro, mas que é gente fina pra caramba. Talvez
apareça na sua porta com um diamante do tamanho de uma lichia e
vocês sejam mais felizes que William e Kate. Sei lá. O fato é que,
sabe lá Deus por quê, atualmente ele não quer mais ficar com essa
mulher incrível que você é.
E
a culpa não é sua mesmo. Ele tem as razões dele. E ele
simplesmente tinha duas escolhas: ficar com você ou não, com todas
as suas qualidades e seus defeitos. E ele escolheu o “ou não”.
Simples assim. Não o odeie. Mas principalmente: não se odeie.
Keep
walking, querida. Acontece com todo mundo. Mas não vou negar que
está acontecendo mais com as mais incríveis.
Algumas
se perguntam se é o caso de disfarçar as qualidades com os novos
paqueras. Fingir-se de burra, mentir sobre o emprego, falar que ganha
mal. Tentar não assustar.
Não,
não, nada disso. Continuem imponentes. Lindas. Invejáveis. Honrem
tudo que conquistaram. Se o teco-teco não acompanha o boeing,
paciência. Continuem voando. Uma hora a gente aterrissa em terras
melhores.
E
sim, há terras melhores, tenham certeza. Há caras bacanas soltos
por aí. Há histórias incríveis para se viver. E há centenas de
dias melhores te esperando.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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