Lançado
com sucesso por Clara Nunes, “Coração leviano” foi um dos
destaques do álbum As forças da natureza, em 1977. Na voz da
Guerreira, acompanhada por um coro de pastoras, o samba parecia
ambientado numa animada roda na quadra de uma escola, em um espírito
festivo que funcionava como contraponto à desilusão amorosa que o
samba cantava. Um ano depois, a gravação do autor, em seu décimo
disco solo, Paulinho da Viola, era mais camerística: apenas
ele e seu cavaquinho, o violão do pai, Cesar Farias, o piano de
Cristóvão Bastos, o clarinete de Copinha e uma discreta seção
rítmica.
Grande
sucesso nas rádios, nos palcos e nas rodas de samba, “Coração
leviano” tem o toque sofisticado de um estilista da composição,
com refinada carpintaria musical e poética, em perfeito encaixe. Um
samba melódico e melancólico sobre uma dolorosa separação sem
adeus, tramada em segredo pela leviandade do coração da ex-amada.
No
fim de sua década de ouro, em que mais compôs e gravou, Paulinho
tinha vivido entre extremos de desilusões dolorosas e encontros
inspiradores, mas “Coração leviano” não parece ser
confessional ou autobiográfica: em 1978, ele se casou com Lila
Rabello (irmã do violonista Raphael Rabello), com quem veio a ter
quatro filhos. A decepção era com a Portela: um ano antes, por
discordar dos critérios nas disputas dos enredos e dos rumos do
carnaval, ele se desligou e ficou mais de três décadas longe da
quadra e dos desfiles da escola, foi como um rio de mágoa passando
em sua vida.
Duas
décadas depois de Clara e Paulinho, “Coração leviano” voltou a
bater com emoção na voz de Djavan, no álbum Malásia
(1996). Em andamento mais ralentado, era um tributo a uma de suas
referências no samba, com discretos sabores da bossa nova que também
se expressa na obra de Paulinho.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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