Puta,
piranha, vadia, vagabunda, quenga, rameira, devassa, rapariga,
biscate, periguete. Quando um homem odeia uma mulher — e também
quando uma mulher odeia uma mulher — a culpa é sempre da
devassidão sexual. Outro dia um amigo, revoltado com o aumento do
IOF, proferiu: “Brother, essa Dilma é uma piranha”. Não sou fã
da Dilma. Mas fiquei mal. Brother: a Dilma não é uma piranha. A
Dilma tem muitos defeitos. Mas certamente nenhum deles diz respeito à
sua intensa vida sexual. Não que eu saiba. E mesmo que ela fosse uma
piranha. Isso é defeito? Se ela tivesse dado pra meio Planalto, isso
faria dela uma pessoa pior?
Recentemente
anunciaram que uma mulher presidiria uma estatal. Todos os
comentários da notícia versavam sobre sua aparência: “Essa eu
comeria fácil” ou “Até que não é tão baranga assim”. O
primeiro comentário sobre uma mulher é sempre este: feia. Bonita.
Gorda. Gostosa. Comeria. Não comeria. Só que ela não perguntou, em
momento nenhum, se alguém queria comê-la. Não era isso que estava
em julgamento (ou melhor: não deveria ser). Tinham que ensinar na
escola: 1. Nem toda mulher está oferecendo o corpo. 2. As que estão
não são pessoas piores.
Baranga,
tilanga, canhão, dragão, tribufu, jaburu, mocreia. Nenhum dos
xingamentos estéticos tem equivalente masculino. Nunca vi alguém
dizer que o Lula é feio: “O Lula foi um bom presidente, mas no
segundo mandato embarangou”. Percebam que ele é gordinho, tem
nariz adunco e orelhas de abano. Se fosse mulher, tava frito. Mas é
homem. Não nasceu pra ser atraente. Nasceu pra mandar. Ele é
xingado. Mas de outras coisas.
Filho
da puta, filho de rapariga, corno, chifrudo. Até quando a gente quer
bater no homem, é na mulher que a gente bate. A maior ofensa que se
pode fazer a um homem não é um ataque a ele, mas à mãe — filho
da puta — ou à esposa — corno. Nos dois casos, ele sai ileso:
calhou de ser filho ou de casar com uma mulher da vida. Hijo de puta,
son of a bitch, fils de pute, Hurensohn. O xingamento mais universal
do mundo é o que diz: sua mãe vende o corpo. 1. Não vende. 2. E se
vendesse? E a sua, que vende esquemas de pirâmide? Isso não é
pior?
Pobres
putas. Pobres filhos da puta. Eles não têm nada a ver com isso.
Deixem as putas e suas famílias em paz. Deixem as barangas e os
veados em paz. Vamos lembrar (ou pelo menos tentar lembrar) de bater
na pessoa em questão: crápula, escroto, mau-caráter, babaca,
ladrão, pilantra, fascista, corrupto, machista. A mulher nem sempre
tem culpa.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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