O
problema que os intelectuais desse país têm de enfrentar parece
muito grave. Os políticos reacionários, agitando o espectro de um
perigo externo, conseguiram sensibilizar a opinião pública contra
todas as atividades dos intelectuais. Graças a este primeiro
sucesso, tentam agora proibir a liberdade do ensino e expulsar de seu
posto os recalcitrantes. Isto se chama aniquilar alguém pela fome.
Que
deve fazer a minoria intelectual contra este mal? Só vejo uma única
saída possível: a revolucionária, da desobediência, a da recusa a
colaborar, a de Gandhi. Cada intelectual, citado diante de uma
comissão, deveria negar-se a responder. O que equivaleria a estar
pronto a deixar-se prender, a deixar-se arruinar financeiramente, em
resumo, a sacrificar seus interesses pessoais pelos interesses
culturais do país.
A
recusa não deveria fundar-se sobre o artifício bem conhecido de
objeção de consciência. Mas um cidadão irrepreensível não
aceita submeter-se a uma tal inquisição, em total infração do
espírito da constituição. E se alguns intelectuais se
manifestarem, bastante corajosos para escolher este caminho heroico,
eles triunfarão. A não ser assim, os intelectuais deste país não
merecem coisa melhor do que a escravidão que lhes está prometida.
EDUCAÇÃO EM VISTA DE UM PENSAMENTO LIVRE Não basta ensinar ao
homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira
um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser
empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não
ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais,
mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente
desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens,
suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu
lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade. Estas
reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos
contatos vivos com os professores, de forma alguma se encontram
escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início
toda a cultura. Quando aconselho com ardor “As Humanidades”,
quero recomendar esta cultura viva, e não um saber fossilizado,
sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema de
competição e de especialização prematura, sob o falacioso
pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam
qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências
do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma
educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência
do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas
entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e
falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha
como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa.
Albert Einstein, in Como Vejo o Mundo
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