Por um tempo atrás meus filhos andaram me descobrindo. Quero dizer como pessoa, pois como mãe me haviam descoberto desde que nasceram, assim como eu os descobri até antes de eles nascerem. Foi tão curioso como, na descoberta, além de mãe, eles me consideravam uma pessoa com quem conversar. Quando eu ia escovar os cabelos no espelho do banheiro, eles me seguiam para continuar a conversa. Um deles desconfiou do que estava acontecendo e perguntou-me com franqueza: você não estará se fazendo de interessante para nós? Respondi que não, que eles é que estavam interessados em mim. Faziam-me perguntas, respondia o que podia. Um deles um dia desses me pediu: me dê o nome de alguns escritores profundos que eu queria ler. Ah, então ele já estava sentindo necessidade? Fiquei contente, e mais contente ainda de lhe dar nomes de escritores profundos brasileiros. Ele andou lendo uns contos de Tchekhov e gostou. O livro era Contos da velha Rússia, que recomendo aos leitores. É livro de bolso.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
Nenhum comentário:
Postar um comentário