Tenho
grandes suspeitas e muitas reservas maldosas em relação ao que se
chama ideal. O meu pessimismo está em ter reconhecido que os
grandes sentimentos são uma fonte de infelicidades; ou seja,
de estiolamento, de desvalorização do Homem. Sempre que esperamos
dum ideal algum progresso, entramos na ilusão: a vitória do ideal
tem sofrido, até hoje, um movimento retrógrado.
Cristianismo,
revolução, abolição da escravatura, igualdade de direitos,
filantropia, amor ao inimigo, justiça, verdade... Tudo grandes
palavras, que só têm valor nas batalhas ou nas bandeiras: não como
realidades, mas como fórmulas aparatosas, que exprimem o contrário
do que dizem.
Afinal,
o nosso idealismo quimérico faz também parte da existência, e
também deve manifestar-se no caráter da existência; não sendo a
fonte da existência, nem por isso deixa de estar presente nela.
Tanto os nossos pensamentos mais elevados como os mais temerários
são fragmentos característicos da realidade. Porque, o nosso
pensamento é feito de características da realidade; o nosso
pensamento é feito da mesma substância de todas as coisas.
Friedrich
Nietzsche, in A vontade de poder
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