Anda
Juana e dá-lhe conversa com a alma, que é tua companheira de
dentro, enquanto caminha pela beira da calçada, na pequena cidade de
San Miguel de Nepantla. Ela sente-se muito feliz porque tem soluço,
e Juana cresce quando tem soluço. Pára e olha a sombra, que cresce
com ela, e com um galho vai medindo depois de cada pulinho de sua
barriga. Também os vulcões cresciam com o soluço, antes, quando
estavam vivos, antes de que os queimasse o seu próprio fogo. Dois
dos vulcões ainda fumegam, mas já não têm soluço. Já não
crescem. Juana tem soluço e cresce. Cresce.
Chorar,
em compensação, encolhe. Por isso têm tamanho de barata as
velhinhas e as carpideiras dos enterros. Isto não dizem os livros do
avô, que Juana lê, mas ela sabe. São coisas que sabe, de tanto
conversar com a alma. Também com as nuvens conversa Juana. Para
conversar com as nuvens é preciso subir nas montanhas ou nos galhos
mais altos das árvores.
– Eu
sou nuvem. Nós, nuvens, temos caras e mãos. Pés, não.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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