quarta-feira, 6 de abril de 2016

Juana aos quatro anos

Anda Juana e dá-lhe conversa com a alma, que é tua companheira de dentro, enquanto caminha pela beira da calçada, na pequena cidade de San Miguel de Nepantla. Ela sente-se muito feliz porque tem soluço, e Juana cresce quando tem soluço. Pára e olha a sombra, que cresce com ela, e com um galho vai medindo depois de cada pulinho de sua barriga. Também os vulcões cresciam com o soluço, antes, quando estavam vivos, antes de que os queimasse o seu próprio fogo. Dois dos vulcões ainda fumegam, mas já não têm soluço. Já não crescem. Juana tem soluço e cresce. Cresce.
Chorar, em compensação, encolhe. Por isso têm tamanho de barata as velhinhas e as carpideiras dos enterros. Isto não dizem os livros do avô, que Juana lê, mas ela sabe. São coisas que sabe, de tanto conversar com a alma. Também com as nuvens conversa Juana. Para conversar com as nuvens é preciso subir nas montanhas ou nos galhos mais altos das árvores.
Eu sou nuvem. Nós, nuvens, temos caras e mãos. Pés, não.
Eduardo Galeano, in Mulheres

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