Moro
no bairro Cidade Nova. No Conjunto Nova Cidade. Lugar onde concentra
o maior número de funcionários públicos da cidade. Professores da
rede pública, agentes de saúde e policiais. Federais, Militares e
coroas da Policia Civil. Ladrão e traficante não se cria no meu
bairro. Tem vida curta. Gosto do meu bairro. Também gosto de
padarias. Gosto mais de pão com manteiga que lagosta ou picanha na
chapa. Se um dia que deus me livre for condenado à morte e pedirem
para escolher uma última refeição, Tenho certeza absoluta que
pediria pão com manteiga e ki-suco de groselha. Era a coisa que mais
curtia comer na infância. Curto até hoje. Não posso sentir cheiro
de pão saindo do forno que fico louco. Hoje levantei cedo para
comprar umas besteiras para botar na mochila e viajar para São
Paulo. Aí entrei numa padaria do bairro e vi alguns jovens bêbados
comendo pão com mortadela numa mesa. Visivelmente drogados e
amanhecidos. Aí fui botando minhas compras numa cesta e escutando as
paradas que eles estavam dizendo “Cê gosta dele? David Bowie é
uma bosta, cara. Wanderley Andrade é mais rock mil vezes”. Um dos
guris gargalhava alto e outro não parava de enfiar empadas e
salgadinhos na goela “Prefiro apanhar na cara da minha mãe que
escutar David Bowie”. Aí as tirações de onda foram ficando
pesadas “Dizem que David Bowie é o camaleão do rock, mas pra mim
não passa de uma Ana Maria Braga da Inglaterra”. Fui ficando
incomodado. Puto. Não sou fã obcecado por Bowie. Gosto de algumas
músicas. Sou mais chegado num Iggy Pop e Lou Reed. Amigos de Bowie.
Aí o loirinho da turma usando uma camiseta dos Ramones deu uma
golada numa caixa de suco e cuspiu no chão. Saquei que a dona da
padaria e as funcionárias estavam acuadas, intimidadas com a baderna
dos pentelhos e tive a brilhante ideia de botar um pão baguete por
dentro da camisa e colar na mesa dos caras com a mão na cintura como
se eu fosse um tira de série americana: “É o seguinte: vou dar 10
segundos pra vocês vazarem daqui. Não quero ouvir um pio. Já
encheram o saco pra caralho!” aí os moleques saíram correndo do
recinto e uma das funcionárias veio me agradecer: “Muito obrigado!
Muito obrigado mesmo! Você aceita algum doce de cortesia?”
“Aceito. Gosto de torta de Maracujá” aí ela tocou no meu ombro
e perguntou: “qual é seu nome, senhor?” aí falei sem tremer nas
bases: “David… David Bowie”.
Diego
Moraes, in
ursocongelado.tumblr.com
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