quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

David Bowie

Moro no bairro Cidade Nova. No Conjunto Nova Cidade. Lugar onde concentra o maior número de funcionários públicos da cidade. Professores da rede pública, agentes de saúde e policiais. Federais, Militares e coroas da Policia Civil. Ladrão e traficante não se cria no meu bairro. Tem vida curta. Gosto do meu bairro. Também gosto de padarias. Gosto mais de pão com manteiga que lagosta ou picanha na chapa. Se um dia que deus me livre for condenado à morte e pedirem para escolher uma última refeição, Tenho certeza absoluta que pediria pão com manteiga e ki-suco de groselha. Era a coisa que mais curtia comer na infância. Curto até hoje. Não posso sentir cheiro de pão saindo do forno que fico louco. Hoje levantei cedo para comprar umas besteiras para botar na mochila e viajar para São Paulo. Aí entrei numa padaria do bairro e vi alguns jovens bêbados comendo pão com mortadela numa mesa. Visivelmente drogados e amanhecidos. Aí fui botando minhas compras numa cesta e escutando as paradas que eles estavam dizendo “Cê gosta dele? David Bowie é uma bosta, cara. Wanderley Andrade é mais rock mil vezes”. Um dos guris gargalhava alto e outro não parava de enfiar empadas e salgadinhos na goela “Prefiro apanhar na cara da minha mãe que escutar David Bowie”. Aí as tirações de onda foram ficando pesadas “Dizem que David Bowie é o camaleão do rock, mas pra mim não passa de uma Ana Maria Braga da Inglaterra”. Fui ficando incomodado. Puto. Não sou fã obcecado por Bowie. Gosto de algumas músicas. Sou mais chegado num Iggy Pop e Lou Reed. Amigos de Bowie. Aí o loirinho da turma usando uma camiseta dos Ramones deu uma golada numa caixa de suco e cuspiu no chão. Saquei que a dona da padaria e as funcionárias estavam acuadas, intimidadas com a baderna dos pentelhos e tive a brilhante ideia de botar um pão baguete por dentro da camisa e colar na mesa dos caras com a mão na cintura como se eu fosse um tira de série americana: “É o seguinte: vou dar 10 segundos pra vocês vazarem daqui. Não quero ouvir um pio. Já encheram o saco pra caralho!” aí os moleques saíram correndo do recinto e uma das funcionárias veio me agradecer: “Muito obrigado! Muito obrigado mesmo! Você aceita algum doce de cortesia?” “Aceito. Gosto de torta de Maracujá” aí ela tocou no meu ombro e perguntou: “qual é seu nome, senhor?” aí falei sem tremer nas bases: “David… David Bowie”.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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