O
que alguns já desconfiavam agora foi referendado por um estudo. As
redes sociais não nos permitem ter mais amigos, revela trabalho
publicado na revista da Royal Society Open Science. O amigo aí,
claro, é o “aliado, concorde. Caro, complacente, dileto,
favorável. Dedicado, afeiçoado”, como está no dicionário,
porque “seguidor” se chega fácil aos milhares.
Por
outro lado, as redes possibilitaram conhecer melhor algumas pessoas
que nos pareciam simpáticas, pluralistas e democráticas e se
apresentam online exatamente o contrário de tudo isso. Você custa a
acreditar na mudança e fica sem saber muito bem o que fazer diante
da nova situação.
Segundo
o estudo, o número máximo de pessoas com as quais nós podemos ter
relações sinceras e fortes gira em torno de 150. Eu acho esse
número exagerado. Talvez 15 esteja mais próximo da realidade. E
dentre esses uns dois, três com os quais você pode contar para o
que der e vier.
Há
poucos dias eu tomava café com duas queridas amigas e falamos, entre
tantas outras coisas, sobre a relação entre redes sociais, solidão
e relacionamento afetivo. E eu lembrei e inclui na conversa, de
raspão porque a conversa fluía leve e solta, referência à
“sociedade líquida” do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Tenho
dúvidas sobre se as redes são vilãs de tantas e variadas coisas
como muita gente aponta. Inclusive Bauman. Uma das amigas levantou
uma questão pertinente. A de que é preciso prudência com
explicações e teorias sobre acontecimentos em curso. A Internet
ainda é muita recente para conclusões cabais.
Solitários,
intolerantes misantropos, neuróticos, agressivos e separações,
encontros e desencontros sempre existiram. O que ocorreu é que as
redes deram mais visibilidade a essas questões, que sempre rendem
muitas “curtidas” e “compartilhamentos” e acabaram migrando
para a vida real. Eu poderia citar como exemplo, ocorrido há pouco,
a exibição de três peças teatrais na cidade (comentei-as aqui
mesmo) que tratam de… relacionamentos amorosos.
Outro
aspecto que alguns teóricos já estão levantando é se a essa
altura ainda cabe separar os mundos real e virtual. Se já não são
uma única coisa.
O
mundo mudou muito e rapidamente e levou tudo de roldão. E o que
estamos vivendo hoje não pode ser explicado sem levar em conta essas
mudanças profundas. Nesse contexto eu destacaria pelos menos duas
mudanças que alteraram significativamente a sociedade: o feminismo e
as independências emocional e financeira das pessoas.
Homens
e mulheres, até bem pouco tempo, em nome de valores e também devido
à dependência financeira, suportavam durante anos e até para
sempre relacionamentos completamente inviáveis e dolorosos, com
consequências desastrosas no entorno. Essa era que você viveu
acabou, viu mamãe! E não deixou saudade. Se essa mudança é parte
da tal “sociedade líquida” então que seja bem vinda.
Nesse
novo tempo que está sendo engendrado, as pessoas brutas,
insensíveis, agressivas, neuróticas, homofóbicas, machistas etc
terão de reinventar-se – terapia ajuda – ou ficarão falando
sozinhas, no seu mundinho real/virtual.
Tácito
Costa, in www.substantivoplural.com.br
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