Prólogo
Peroração "Vá buscar a coisa Que está em cima Daquele negócio, menino. Vai logo, diacho".
Elilson José Batista, in Miscelânea Poética.
A brochura do livro
Não está no meio;
Sim, na mente.
Renitência
Às vezes o peixe
Nos escapa à mão.
Daí a relutância, persistência
Necessária.
Quem acendeu
Os fachos das estrelas?
O menino.
Um menino equilibrista
Numa mangueira,
Bom de se ver.
Frutos colhidos,
Sugados até os ossos.
Esse amarelo-ouro
Não é de se pegar?
Divagações
A fala, eis o que sou,
O meu discurso.
A palavra, dita ou não,
Vale. A palavra vã
Também.
As palavras do pai, mãe:
“Não te falei?”, machuca.
O compulsório
Da vida
É o fôlego.
Há palavras insossas,
Temperá-las é preciso.
O sal da palavra
Dá sabor ao dito.
Na ponta
Da língua
Sinto o condimento
Da palavra.
Reminiscências
O rio e seus reveses:
Seco é o rio
Da minha infância.
Margem esquerda,
Morada, 171,
Dita rua de Baixo
Oficial, D. Pedro II.
Viva a anarquia
Dos guris. Idos tempos.
Chico Doido: olhos verdes
Atentos, pernas
Separadas, mãos ágeis
Nos revólveres imaginários.
Nosso Django. Passarim
Grande. Um sopro
O matou. Do coração.
Os responsos
De minha tia
Não trouxeram de volta
Os meus pertences
Espirituais.
A fé, esta,
Onde está?
Dualidade
De que é feita
A paixão
-Cegueira tresloucada-
Não nos foi dito.
O amor, colóquio,
Não se mede.
Interregno
Mire:
O coqueiro, afeito ao solo,
Buscando o céu.
No mais, são insanas
Verdades
Ou mentiras ditas veras.
É possível navegar
No fio da faca.
Fiar-me de quê?
Os deuses são factíveis.
O ideário do rio
É o mar. O do
Carrasco é a dor.
Repare:
De onde vem tamanho
Sabor das
Bagas
Da graviola?
O graveto flui,
Reflui no redemoinho
E é sorvido pela água.
Ele somos nós.
É forçoso dizer:
Os últimos serão
Os derradeiros. Quem
Espera sempre
Cansa.
Sim, meu falar
Já foi antes dito,
Anotado, bisado, escrito,
Recontado, reproduzido,
E poderá ser dito,
Anotado, bisado...
Dizer a verdade
Dói mais que mentir.
Um rio é inconsútil
Serpenteia nossos sonhos,
Impregna
Nossa secura.
É com dissabor
Que recebemos a dor.
Mas o bem da casca
De angico trava.
Daí a alternância
Bem mal bem mal bem mal.
Telúrico
O chão de minha terra
É de pedregulho só.
Será que fomos
Feitos desse barro?
Nuvens de pó
E de garranchos.
Oito meses abióticos,
sinistros.
Eu, pouco, meus
Erros a mais.
Tentâmen
Sou introspecto:
Logo, especulo,
Filosofo. Daí
Minha melancolia.
A verdade
(porque provável)
está
Na Matemática.
O acúmulo
Do vil metal
É o cúmulo.
Ao reprovar
O autoritarismo
Da extrema direita,
Renego o da
Esquerda.
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