quinta-feira, 29 de maio de 2025

1565 – Cidade do México

Cerimônia

Cintila a túnica dourada. Quarenta e cinco anos depois de sua morte, Montezuma encabeça a procissão. Os cavaleiros entram, a trote lento, na praça maior da Cidade do México.
Os bailarinos dançam ao som dos tambores e ao lamento dos pífanos. Muitos índios, vestidos de branco, levantam ramos de flores; outros sustentam enormes caçarolas de barro. A fumaça do incenso se mistura aos aromas das comidas picantes.
Na frente do palácio de Cortez, Montezuma desce do cavalo.
A porta se abre. Entre seus pajens, armados com altas e afiadas alabardas, aparece Cortez.
Montezuma humilha sua cabeça, coroada de plumas e ouro e pedras preciosas. Ajoelhado, oferece grinaldas de flores. Cortez toca seu ombro. Montezuma se levanta. Com gesto lento, tira a máscara e descobre os cabelos cacheados e os bigodes de pontas altas de Alonso de Ávila.
Alonso de Ávila, senhor de forca e punhal, dono de índios, terras e minas, entra no palácio de Martín Cortez, marquês do vale de Oaxaca. O filho do conquistador abre sua casa ao sobrinho de outro conquistador.
Hoje começa oficialmente a conspiração contra o rei da Espanha. Na vida da colônia, nem tudo são saraus e torneios, baralhos e caçadas.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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