Hawkins
Os
quatro navios, ao mando do capitão John Hawkins, esperam a maré da
manhã. Nem bem subam as águas, partirão rumo à África, para
caçar homens nas costas da Guiné. Dali porão a proa rumo às
Antilhas, para trocar os escravos por açúcar, couros e pérolas.
Há
um par de anos Hawkins fez esse trajeto por conta própria. Em uma
nau chamada Jesus, vendeu de contrabando trezentos negros em
São Domingos. Explodiu de fúria a rainha Isabel quando ficou
sabendo, mas desfez-se sua ira quando soube o lucro da viagem. Em um
piscar de olhos, se tornou sócia do audaz lobo-do-mar do condado de
Devon, e os condes de Pembroke e Leicester e o alcaide-mor de Londres
compraram as primeiras ações da nova empresa.
Enquanto
os marinheiros içam as velas, o capitão Hawkins discursa da ponte
de comando. A armada britânica fará suas essas ordens nos séculos
vindouros:
– Sirvam
a Deus diariamente! – manda Hawkins. – Amai-vos uns aos
outros! Reservai vossas provisões! Cuidai-vos do fogo! Mantenhai-vos
em boa companhia!
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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