terça-feira, 6 de maio de 2025

1564 – Plymouth

Hawkins

Os quatro navios, ao mando do capitão John Hawkins, esperam a maré da manhã. Nem bem subam as águas, partirão rumo à África, para caçar homens nas costas da Guiné. Dali porão a proa rumo às Antilhas, para trocar os escravos por açúcar, couros e pérolas.
Há um par de anos Hawkins fez esse trajeto por conta própria. Em uma nau chamada Jesus, vendeu de contrabando trezentos negros em São Domingos. Explodiu de fúria a rainha Isabel quando ficou sabendo, mas desfez-se sua ira quando soube o lucro da viagem. Em um piscar de olhos, se tornou sócia do audaz lobo-do-mar do condado de Devon, e os condes de Pembroke e Leicester e o alcaide-mor de Londres compraram as primeiras ações da nova empresa.
Enquanto os marinheiros içam as velas, o capitão Hawkins discursa da ponte de comando. A armada britânica fará suas essas ordens nos séculos vindouros:
Sirvam a Deus diariamente! – manda Hawkins. – Amai-vos uns aos outros! Reservai vossas provisões! Cuidai-vos do fogo! Mantenhai-vos em boa companhia!

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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