Os
tzitzime
Prenderam
e estão castigando Juan Téton, índio predicador do povo de
Michmaloyan, no vale do México, e também quem o escutou e acatou.
Andava Juan anunciando o fim de um ciclo e dizia que estava próximo
o laço dos anos. Então, dizia, chegará a completa escuridão, se
secarão os verdores e haverá fome. Em animais se transformarão
todos os que não lavem a cabeça para apagar o batismo. Os tzitzime,
espantosos pássaros negros, baixarão do céu e comerão todos os
que não tenham tirado de si as marcas dos padres.
Também
tinha anunciado os tzitzime Martín Océlotl, que foi preso e
açoitado, despojado e desterrado de Texcoco. Também ele disse que
não haverá lume na festa do fogo novo e que se acabará o mundo por
culpa dos que esqueceram as lições dos pais e avós e já não
sabem a quem devem o ter nascido e crescido. Através das sombras se
abaterão sobre nós os tzitzime, dizia, e devorarão as
mulheres e os homens. Segundo Martín Océlotl, os frades
missionários são tzitzime disfarçados, inimigos de toda
alegria, que ignoram que nascemos para morrer e que depois de mortos
não temos prazer os regozijo.
E
algo assim também opinam sobre os frades os antigos senhores que
sobreviveram em Tlaxcala. Coitados, dizem. Coitados. Devem
estar doentes ou loucos. Ao meio-dia, à meia-noite e ao quarto da
madrugada, quando todos se regozijam, estes gritam e choram. Mal
grande haverão de ter. São homens sem sentido. Não buscam prazer
ou alegria, e sim tristeza e solidão.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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