terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

1558 – Michmaloyan

Os tzitzime

Prenderam e estão castigando Juan Téton, índio predicador do povo de Michmaloyan, no vale do México, e também quem o escutou e acatou. Andava Juan anunciando o fim de um ciclo e dizia que estava próximo o laço dos anos. Então, dizia, chegará a completa escuridão, se secarão os verdores e haverá fome. Em animais se transformarão todos os que não lavem a cabeça para apagar o batismo. Os tzitzime, espantosos pássaros negros, baixarão do céu e comerão todos os que não tenham tirado de si as marcas dos padres.
Também tinha anunciado os tzitzime Martín Océlotl, que foi preso e açoitado, despojado e desterrado de Texcoco. Também ele disse que não haverá lume na festa do fogo novo e que se acabará o mundo por culpa dos que esqueceram as lições dos pais e avós e já não sabem a quem devem o ter nascido e crescido. Através das sombras se abaterão sobre nós os tzitzime, dizia, e devorarão as mulheres e os homens. Segundo Martín Océlotl, os frades missionários são tzitzime disfarçados, inimigos de toda alegria, que ignoram que nascemos para morrer e que depois de mortos não temos prazer os regozijo.
E algo assim também opinam sobre os frades os antigos senhores que sobreviveram em Tlaxcala. Coitados, dizem. Coitados. Devem estar doentes ou loucos. Ao meio-dia, à meia-noite e ao quarto da madrugada, quando todos se regozijam, estes gritam e choram. Mal grande haverão de ter. São homens sem sentido. Não buscam prazer ou alegria, e sim tristeza e solidão.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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